Saul Rodrigues, português a viver em Biasca
“A parte mais difícil é, sem dúvida, a distância física de familiares e amigos”
Saul Manuel Cardoso Rodrigues tem 41 anos de idade e conta já com “duas filhas maravilhosas”, Letícia Rodrigues, de seis anos, e Áurea Rodrigues, de 15 meses. Vive em Biasca, localidade pertencente ao cantão Ticino. É natural de Travanca, no concelho de Armamar, distrito de Viseu.
Em declarações à nossa reportagem, este português falou sobre a vida na Suíça, a imagem dos portugueses no país e o que espera do futuro.
Em que locais de Portugal tem família?
Graças a Deus, a nossa família é bastante grande e está espalhada um pouco por todo Portugal, nomeadamente Travanca, Grande Porto, Grande Lisboa e Açores.
Como é a sua vida na Suíça?
Considero que a minha vida é completamente normal. Estar com a família e alguns amigos, trabalho, hobbies e quando possível dar passeios e viajar.
Como é viver na Suíça?
Neste momento, para mim, viver na Suíça é bastante gratificante, mas também muito exigente. A parte mais difícil é, sem dúvida, a distância física de Familiares e Amigos. No início, foi difícil a adaptação, mas agora eu e a minha família estamos completamente inseridos na Comunidade Ticinesa.
Em que trabalha na Suíça?
Trabalho numa empresa fornecedora de produtos alimentares. As minhas principais funções, como assistente de armazém, são receção e preparação das encomendas diárias e organização do respetivo armazém.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Tenho a felicidade de ter aqui familiares e pessoas conhecidas perto da vila onde vivo, o que permite que haja convívio.
Como os portugueses são recebidos no País?
No início, há sempre a fase de adaptação ao novo país, mas, na maioria das vezes, existe uma boa solidariedade entre as pessoas, o que facilita uma boa receção dos Portugueses no País. Claro, isto depende do espírito aberto e da mentalidade que trazes contigo. Cada caso é um caso.
Frequenta Associações Portuguesas?
Neste momento, devido à minha incompatibilidade do trabalho, não consigo frequentar nenhuma Associação. Contudo, ideias e motivação não me faltam, pois há sempre aspetos sociais que gostaria de implementar. As Associações Portuguesas têm um papel muito importante fora de Portugal, pois permitem que alguns costumes e tradições do nosso País sejam representados da melhor forma.
Como consegue matar as saudades de Portugal?
As saudades de Portugal, por muitas coisas que eu possa fazer, nunca conseguirei colmatá-las. Felizmente, as redes sociais do dia de hoje permitem-nos ter um contato quase direto. As viagens regulares para Portugal e visitas de familiares aqui à Suíça também ajudam a superar a distância. Em relação à comida, conseguimos encontrar quase todos os tipos de produtos nacionais nas lojas portuguesas e nos supermercados locais. Apesar de haver uma grande diversidade geográfica aqui na Suíça, a brisa do nosso mar, nomeadamente a do Porto, cidade que me acolheu nos tempos universitários, essa, claro, faz-me falta.
Vive com a sua família?
Sim, vivo com a minha mulher Clarisse Santos e com as minhas duas filhas, Letícia Rodrigues, de seis anos, e a Áurea Rodrigues, de 15 meses. Tenho a felicidade de ter também aqui numa vila próxima os meus Pais e Irmão e outros familiares.
Qual o sentimento quando regressa a Portugal de férias?
O sentimento é de uma enorme alegria e conforto. O estar com os familiares e amigos, embora por vezes, seja às pressas, o visitar locais que têm significado para ti, faz com que valha cada minuto em Portugal. Nestes últimos sete anos, comecei a dar mais valor à qualidade de tempo que à quantidade. Não importa o país estrangeiro que vives no momento, o país de onde nasceste e crescestes trazes-lhe sempre no teu coração.
Pensa voltar a viver em Portugal algum dia?
O futuro a Deus pertence. Neste momento, encontro-me bem na Suíça, contudo, não me impede num futuro voltar para Portugal ou até mesmo viver num outro país do mundo.
O que conquistou na Suíça até agora?
Para mim, as conquistas são pequenas conquistas diárias. O facto de poder conhecer e conviver com pessoas de culturas e mentalidades diferentes permite que eu próprio tenha uma mentalidade mais aberta e um enriquecimento pessoal muito gratificante. Também deu-me a possibilidade de poder conhecer os vários países circundantes da Suíça.
O que a Suíça significa para si?
Para mim, a nossa casa é o local onde temos felicidade e bem-estar num momento prolongado. Neste momento, a Suíça é a minha casa.
Que imagem tem de Portugal?
A imagem de um país faz-se das pessoas. Portugal é um país muito rico em várias áreas, com grande história no passado e no presente, demonstrando que somos capazes de superar várias adversidades. Acredito que Portugal terá o reconhecimento que nunca lhe foi devido, porém, deverá ter uma abordagem mais atual e ativa. Para alcançar o mérito, as pessoas deverão trabalhar de um modo honesto e eficaz e deixar de lado, de uma vez por todas, o favorecimento que tanto prejudica o crescimento do país.
Como e por que foi viver nesse País?
Decidi vir viver para a Suíça num momento pessoal muito precário. Como o meu irmão já vivia há alguns anos aqui na Suíça e eu já tinha algum conhecimento da realidade do país, resolvi com a minha mulher vivermos aqui. Claro que não foi uma decisão tomada de ânimo leve, pois tivemos que deixar muitas coisas importantes para nós, começar do “zero” sem saber se iríamos conseguir nos adaptar ou não ao novo país.
O que espera do futuro?
Espero ter saúde para conseguir cumprir as minhas responsabilidades como pai de família. Espero também conseguir obter a minha equivalência do curso de Direito que fiz em Portugal, para ter novas oportunidades de trabalho.
Qual a diferença de vida entre Portugal e a Suíça?
Pessoalmente, não posso indicar diferenças concretas de vida porque o teu padrão de vida é uma decisão pessoal. Cada país tem a sua própria oferta, e ambos os países são bastantes ricos e dinâmicos culturalmente. Vai depender do teu gosto, da tua mentalidade e do teu rendimento.
A língua é um problema?
No início, foi uma grande barreira. O quereres falar e não conseguires, o quereres perceber e não seres capaz é uma das piores sensações que uma pessoa recém-chegada pode viver. A nível profissional, quer na procura quer nos primeiros dias de trabalho, o não perceber a língua é um grande entrave. Ao longo do tempo, com o convívio diário e com a realização de cursos de língua italiana, hoje em dia a língua italiana já não é um problema.
Como a pandemia impactou o seu dia a dia e o da sua família?
A pandemia trouxe a nível mundial muitos aspetos negativos. Apesar de ter sido um momento bastante anormal das nossas vidas, posso dizer, com humildade, que a pandemia me permitiu viver vários momentos em família que, numa situação normal, seguramente não os viveria. Posso dizer que foi um momento bastante gratificante para mim como pai.
Por fim, como vive o coração de emigrante português na Suíça?
Desde que saí de Portugal, nunca me considerei um emigrante, mas sim um cidadão do mundo. Nos dias de hoje, o coração de um imigrante consegue estar mais presente em Portugal em comparação aos imigrantes de outros tempos. As redes sociais e a oferta da rede de transportes permitem a visita a Portugal de uma maneira mais regular e rápida. Eu sou um apaixonado pelo meu país, e faço questão de representá-lo pessoalmente. Apesar de não estar presente fisicamente, de um modo contínuo, sinto que tenho o dever cívico de continuar a participar ativamente em vários contextos do nosso país e da nossa Terra.
Ígor Lopes