Vinte e quatro de Setembro, um dia que ficou sinalizado com a sólida convicção de que a cultura folclórica tem futuro garantido. A assinatura chegou do Rancho Folclórico Terras de Portugal Lucerna.
Quando saí de casa a tarde era de trovoada. Chegar a Lucerna para abrir os festejos do XII festival foi sob muita chuva e muito trânsito, mas depressa esqueci o tempo na estrada ao ver uma sala repleta de público sorridente.
As reservas anunciavam sala esgotada, tanto nos jantares como nos espectadores. Tudo estava perfeito para dar início às 20h30 e assim foi.
Sentia-se na sala essa nostalgia da ausência de mais de dois anos sem festas, sem convívios, sem poder dar e receber aplausos. No entanto, foi muito rápido que tudo se tornou mais leve, mais festivo, mais grandioso.
Os primeiros aplausos, foram para todos os elementos do rancho organizador, que aprimoradamente decoraram a sala, cozinharam o menu principal e foram muitos aqueles que também participaram com doações de deliciosas sobremesas.
Estava tudo tão gostoso.
Depois tivemos de agradecer a todos os “sponsors”. Temos consciência que sem eles tudo seria muito mais difícil. A única palavra que define gratidão é o nosso, obrigado.
A presença do Padre Aloísio é uma referência indispensável.
Com o Rancho de Arbon a abrir o festival, viu-se que o nosso tão saudoso público se tinha transformado numa autêntica emissora. Estávamos todos tão sintonizados, que parecia irreal.
E assim, o primeiro rancho estava em palco, cheio de energia. É um grupo ainda jovem, mas plenos de garra e muito empenhados em atingir a perfeição. A jovialidade é bem presente. Sorrisos e elegantemente transformados em dançarinos, executavam tão harmoniosamente as suas coreografias, que ninguém se deu conta, que estiveram parados dois anos no seguimento do Covid 19. Deixaram assim a certeza de que muito brevemente irão ser um marco de folclore.
O Alto Minho subia ao palco com o “Grupo Folclórico Os Amigos Arcuenses”, vindo pela primeira vez de Lausanne para mostrar a sua veia folclórica. Notória a cumplicidade entre os elementos. Também eles são bastante jovens, mas muito interessados em deixar registado que a cultura folclórica é para todas as idades. Viana do Castelo, pode e deve estar orgulhosa deste grupo que tão bem representa as suas raízes. Dançaram muito bem e seduziram o público presente.
Depois foi a vez do Grupo Etnográfico da Casa Ponte da Barca, que atravessou a fronteira vindo de França. Mostrando a Etnografia logo na entrada. Foi a escolha acertada deste grupo sempre muito apreciado, porque como todos sabemos os primórdios da cultura folclórica começaram por grupos algo desorganizados, que conversavam aqui, ali, com uns, com outros e com todos. Assim também se começava com a troca de olhares que podia ou não dar início a uma bonita história de amor.
Com muita vivacidade dançaram o folclore, as modas e mostraram as tradicionais ferramentas de trabalho. Algumas que hoje temos muita dificuldade em ver, mas que fazem parte da história. Deixaram provar a broa, o peixe frito, os tradicionais enchidos e o vinho vindo da região. Deixando assim provado que as tradições resistem e sobrevivem à passagem dos séculos.
E por fim, já perto das vinte e duas horas, dava entrada com muita emoção o rancho Terras de Portugal de Lucerna. Que momento esplêndido vivemos com a entrada do rancho organizador em palco. Para os mais atentos, pudemos ler nos rostos de todos uma comoção sentida. Com eles fizemos uma viagem pela cultura popular de norte a sul de Portugal. O palco torna-se sempre “pequeno”, para este grande e sumptuoso grupo. Eles ali estão com a sua exatidão coreográfica, que desta vez teve também rubrica da Melanie Martins. É evidente que o presidente e o ensaiador têm dado um contributo excepcional a todos os elementos que têm a humildade de aceitar sem julgar as decisões da maioria. É bom saber que funcionam como grupo. Brilham com luz própria e podem-se orgulhar do que simbolizam. São refletores de alegria e a mensagem que passam é de inspiração que o futuro ainda os vai surpreender com muitos e fantásticos festivais.
Ao presidente deste grupo, Manuel Martins, os meus parabéns por ter vindo a assumir este papel tão bem desempenhado sem sequer ter raízes folclóricas na família. Aprendeu e hoje vibra com todos os seus elementos. Compreende na totalidade os problemas, mas sabe e tem o poder de motivar para que o seu grupo permaneça coeso.
Por fim rendeu-se uma grande e sentida homenagem a Joaquim Pereira. Um tocador que esteve presente no Rancho durante uma década e que tragicamente num acidente fatal de trabalho nos deixou no dia 16 de Setembro de 2022.
A sala levantou-se comovida num aplauso interminável. Um momento indescritível que faz parte da memória de todos os presentes e agora também das redes sociais. À família que ficou devastada e à família folclórica desejamos força e coragem para dar continuidade aos sonhos e desejos deste elemento. De todos nós os nossos sentidos pêsames.
Temos ainda que tirar o chapéu ao Trio responsável pela sonorização e baile. Dinâmicos e muito perto do público, deram-nos uma verdadeira noite de diversão. A sua actuação esteve perfeita e encaixada no contexto que foi a noite de folclore.
Por fim, agradeço as sete rosas que recebi. Em cada espinho senti a tristeza de homenagear o vosso elemento. Em cada pétala identifiquei o público desta sala dedicada à cultura. Neste maravilhoso ramo de rosas percebi, uma vez mais, o carinho, o respeito e o reconhecimento que por mim têm.