A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes. Winston Churchill (1874-1965)
Após o fecho da presente edição deverá estar a decorrer a votação da moção de confiança apresentada pelo Governo. Não sei se a mesma se irá realizar, se irá existir mais algum “truque” na manga de algum partido ou se o Governo cairá e mergulhará Portugal em novas Eleições Legislativas.
Por isso, não pretendo opinar sobre o assunto e anteceder algum cenário, tendo em conta que o jornal quando chegar a casa dos seus assinantes já todos saberemos o que irá acontecer… ou não…
Todavia, há algo que me incomoda bastante, numa época em que o mundo está cheio de ideias tresloucadas e de ditadores com máscaras de anjos assassinos. O que me incomoda é que num país pequeno, calmo, dos mais seguros do mundo, com uma população que tem fama de ser trabalhadora, e é verdade, como acontece nas nossas comunidades pelo mundo, tenha um novelo de políticos que apenas pensam nos seus “jogos” de bastidores, tentando encontrar formas para beneficiar os seus pares.
Somos um país que vê um governo maioritário cair por algo que ainda está por entender, mas que o Presidente da República facilmente entendeu “substituir” com eleições, não aceitando outro nome proposto pelo partido do Governo.
Agora temos mais confusões, dentro de um Governo minoritário que se vê a braços com polémicas em redor do seu principal responsável. E, durante duas semanas, o país parou para assistir a uma novela política com moção de censura para trás e para a frente.
Enquanto isso, os portugueses continuam sem ver os respetivos problemas resolvidos. Que o digam os que vivem fora de Portugal, como no caso concreto da comunidade portuguesa residente na Suíça.
Estamos a viver um momento de crise política, de valores e mesmo de dirigentes, capazes de imporem os interesses dos portugueses acima de qualquer outro interesse pessoal, político ou empresarial…
Vivemos uma época em que tudo parece ser gerido por sondagens. Aliado a tudo isto temos alguma imprensa a alimentar todas as polémicas e a encharcar jornais e telejornais com os mesmos “atores”. Todos os dias, todas as horas, são sempre os mesmos a opinar, não sobre os projetos para o país, mas sobre a “irresponsabilidade” do opositor como se tudo isto fosse um jogo de futebol. Por vezes parece. Somos um público a vibrar por uns ou por outros, a chamar nomes ao árbitro e a contestar o VAR…
Continuamos a ser um povo pacífico. Não falo em revoluções, contestações ou manifestações de rua como as que acontecem em França… continuamos a ser um povo pacífico porque olhamos para isto tudo como uma novela. Esperamos sempre pelas cenas do próximo capítulo. Enquanto isto, os atores são sempre os mesmos, anos seguidos, alguns não sabem fazer mais nada, e nós olhamos para o televisor ou para o escaparate dos jornais ou da internet como se tudo isto fosse ficção. Não é. Todas estas peripécias e malabarismos de uma hipotética política estão a jogar com o interesse de todos os cidadãos e com o futuro dos nossos filhos e netos. Faz-me lembrar o provérbio árabe: “O camelo quando não tem água, bebe areia”. Basta de beber areia…
Só me dá vontade de citar o humorista e médico Carlos Vidal: “Que é que eu acho? Acho bem”… mas depois não venham pedir a confiança do meu voto.
Adélio Amaro, diretor