No município de Acquarossa, na região do Cantão de Ticino, no sul da Suíça, vive a portuguesa Maria José Guia Pereira Giardelli, natura de Armamar, e que está emigrada na Suíça há cerca de 40 anos. Conversamos com Maria José, ou Zezinha, para conhecer um pouco do seu percurso nesse país europeu.
Em que locais de Portugal tem família?
Tenho família em Portugal, na região de Travanca, em Armamar; no concelho de Tarouca, no Porto, em Lisboa, no Brasil, na França e na Suíça.
Fale um pouco sobre a sua vida na Suíça. O que faz?
Atualmente, ocupo-me só dos quartos. O restaurante foi arrendado depois de 26 anos.
Como é viver na Suíça?
Vivo no Cantão Italiano situado ao Sul da Suíça, onde há muitas montanhas que se consegue explorar, ver paisagens paradisíacas dentro de uma natureza pura e de beleza deslumbrante.
Há quanto tempo está no país?
Desde 28 de março de 1981, quando iniciei a trabalhar como camareira. Depois de cinco anos, conheci aqui um homem suíço, Giorgio Giardelli, casei, con-tinuando no ramo da hotelaria no nosso Restaurante Pizzeria e Albergo Rubino Aquarossa, descobri que tinha muita tendência para este trabalho de organizar festas e banquetes.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Sempre convivi com a comunidade portuguesa, mesmo casada aqui e com família, o meu coração espera sempre o momento em que possa visitar as minhas raízes. Amo demais o meu Portugal, a minha família, amigos e tudo o que lá deixei. O primeiro baile português que foi feito na Suíça foi quando veio aqui por volta de 1987 o cantor Necallopes, de Armamar, já éramos amigos do tempo da escola. Foi no nosso restau-rante a sua primeira atuação na Suíça na Festa de São João, onde estiveram presentes 700 portugueses. Tive sempre muita clientela portuguesa. Ao início, o meu restaurante era o ponto de encontro, sobretudo aos fins de semana. Mais tarde, em 1986, foi me diagnosticado um cancro no seio. Foi um ano inteiro muito difícil, mas sempre lutei com muita força pelos meus filhos. Mais tarde, em 2000, organizei, com um grupo de amigas e família, uma festa dedicada a ajudar a Associação da Liga contra o Cancro e Associação Triangolo. Foram 20 anos consecutivos sempre com bons resultados, mas, pelo problema Covid-19, foi anulada ficando há espera do momento que finalmente se possa realizar.
Como os portugueses são recebidos por aí?
Os portugueses aqui na Suíça foram e são bem recebidos pelas qualidades que lhe transmitimos, conquistamos a sua confiança.
Quando organizam festas e bailes, se posso, vou divertir-me. Sinto-me na minha nação.
Como consegue matar as saudades de Portugal?
As saudades estão sempre presentes, mas tento preenchê-la com o amor da minha família e amigos. Quando vim para aqui depois é que começaram a chegar mais portugueses. Quem me acolheu foi um casal da minha terra (Travanca-Armamar) e me aconchegou, com 19 anos não era fácil estar em outra nação com outros princípios e língua diversa. Consegui trazer alguma família e amigos para ao pé de mim, irmã, cunhado, sobrinhos e amigos.
Vive com a sua família?
Aqui vivo com a minha família: marido e filhos, que já são independentes nas suas casas, mas, encontramo-nos muitas vezes. Não vivem longe. Tenho dois filhos: Sara Giardelli Pereira, com 33 anos, e Christian Giardelli Pereira, com 28 anos. Falam o português e escrevem com muito orgulho. Fiz questão que compreendessem a língua da Mãe. Eu, dia 3 de maio, vou fazer 60 anos.
Qual é o sentimento quando regressa a Portugal de férias?
Quando chego a Portugal, sinto-me eu mesma, de uma felicidade única, apesar de estar bem aqui, continuei a ser muito patriota. Por agora, a ideia é de ir de férias, ir definitivo, no momento não está nos meus projetos.
O que a Suíça significa para você?
Depois de tantos anos aqui, também me sinto bem na Suíça, o nível de vida é bom, apesar de ter que se trabalhar muito para se conseguir algo a mais na vida, porque tem que se pagar muitos contributos (impostos e vivendo aqui a vida é cara, mas a qualidade recompensa, sobretudo no campo da saúde. Vim para aqui porque no momento da minha adolescência a vida em Portugal não se encontravam muitas prospetivas de uma vida melhor e pouco trabalho. Eu aprendi rápido a língua, sendo latina, para mim, favoreceu-me.
Como a pandemia impactou o seu dia a dia e o da sua família?
Com a pandemia surgiram tantos problemas. A vida ficou muito limitada e tivemos de cumprir as leis, é importante estar atentos e considerar o problema que esta doença nos pode causar sem a higiene que nos é imposta. Quando se pode, fazemos passeios a pé no meio da natureza aonde é tranquilo e não movimentado. Estamos muito em casa e renunciamos a muitas visitas e festas.
Por fim, como vive o cora-ção do imigrante português na Suíça?
O emigrante na Suíça trabalha com vontade esperando só o momento de poder voltar à sua terra Natal e aos seus afetos. Não é uma vida fácil, trazem sempre a saudade gravada no coração renunciando a muitas coisas na vida para conseguirem realizar os seus sonhos, construírem casa para quando puderem voltar às suas origens e envelhecerem em Portugal.
Ígor Lopes