No seu romance “Os Memoráveis”, Lídia Jorge converte a narrativa histórica da Revolução de Abril em mito fundador e fundacional da democracia e da prática cidadã, tal como as conhecemos hoje em Portugal. Nos 50 anos do 25 de abril de 1974, interessa perceber o que se tem feito com a herança herdada e como os jovens se apropriam deste “nada que é tudo”, graças à educação e a uma das grandes conquistas de Abril, a educação universal e gratuita.
Assim, e no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril programadas pelo 2.º Fórum Português na Suíça, a Coordenação de Ensino Português na Suíça (CEPE Suíça) apresentou em Renens, nos dias 27 e 28 de abril, os resultados de um projeto de sensibilização e participação ativa dos jovens lusodescendentes nas sociedades onde se inserem, a suíça e a portuguesa, com vista à promoção das competências intercultural e de mediação, fundamentais para uma exitosa integração.
A iniciativa Cidadania ParticipAtiva, projeto agregador e transversal de cariz cívico, desenvolvido pela CEPE Suíça, envolveu 16 professores e 260 alunos de turmas dos cursos de Língua e Cultura Portuguesas espalhados por toda a Suíça. Os trabalhos dos mais pequenos (6-12 anos), subordinados ao tema “Todos diferentes, todos iguais”, ganharam vida na exposição presencial e virtual patente em Renens. Os produtos artísticos, suportados por um enquadramento teórico e reflexivo facilitado em sala de aula, revelaram a visão colorida e aberta das crianças e jovens e a sua perceção de que as diferenças são riquezas e não obstáculos à vida em sociedade. Em paralelo, os visitantes tiveram a oportunidade de apreciar uma exposição da autoria dos alunos do professor José Coelho relativa ao 25 de abril português, à conquista das liberdades e à sua contextualização histórica. De registar ainda o facto de muitos encarregados de educação terem acompanhado os seus educandos e/ou terem participado em família, ao final do dia de sábado, no Quiz lançado na plataforma Kahoot sobre o funcionamento político-social de Portugal e da Suíça.
O ponto alto deste certame comemorativo foi, sem dúvida, o 1.º Parlamento dos Jovens lusodescendentes na Suíça que contou com alunos do Ensino Secundário (14-18 anos) provenientes de Basileia, Genebra, Lausana, Nyon, Sion e Zurique. A mesa parlamentária foi composta pela sua Presidente, Lara Inês Calejo Vicente, assessorada por Sara Grunho Pereira, ambas ex-alunas do Ensino Português na Suíça, e sob a orientação profissional do professor António Carvalho. O tema proposto, “Liberdades individuais, Responsabilidade coletiva”, levou à formulação de diversas medidas apresentadas a debate nas escolas e depois, dependendo das votações, alteradas e aprovadas, expressando a posição dos alunos face a problemas ou situações por eles identificados e relacionados com o tema.
A abertura da sessão deste primeiro Parlamento dos Jovens contou com a intervenção da Senhora Coordenadora do Ensino Português na Suíça, Doutora Lurdes Gonçalves, que fez uma retrospetiva da implementação deste projeto ímpar.
Após a discussão das várias medidas apresentadas e a inevitável esgrima oratória, a presidente da Mesa publicou as recomendações apresentadas pelos porta-vozes das escolas participantes, Luís Filipe Lourenço de Almeida e Daiana Martins Fernandes Vicente. As seis medidas consideradas serão apresentadas ao Governo da República Portuguesa e aos organismos representantes das Comunidades portuguesas. É de salientar que as recomendações dos jovens se centram precisamente na pasta da Educação, não só apelando a uma (re)valorização dos seus recursos humanos, como também evidenciando o seu papel primordial em formar cidadãos empenhados, social e politicamente comprometidos.
A destacar ainda a presença honorífica do jornalista Adelino Gomes, conhecido jornalista português, repórter durante a Revolução de Abril, que participou dos trabalhos do parlamento e dinamizou uma lúcida e cativante apresentação sobre o momento fundador da Democracia moderna portuguesa e o seu árduo percurso, dando ênfase ao valor da liberdade e do saber viver em liberdade.
Dois dias memoráveis que perpetuam a herança de Abril, dentro e fora de fronteiras.
Sónia Melo
e António Carvalho,
Professores EPE Suíça