› Fernando Morgado
Chegámos! As férias à porta, frenesim, entusiasmo, saudade… esta palavra tão portuguesa, tão difícil de entender para todos os outros. Nos preparos de viagem, na agitação da contagem decrescente, fazemos planos, imaginamos cenários, planeamos as melhores férias de sempre! Se o ano civil começa a 1 de janeiro, o ano dos emigrantes é de 1 de agosto (ou outro mês de verão) a 1 de agosto do ano próximo. As festas de aldeias que não vemos há muito tempo, os abraços, as lágrimas genuínas, os cheiros da terra, os sabores de infância, o calor que não se encontra em lado algum do mundo.
Com mais ou menos provações, partimos para nos encontrar, para recordar os tempos em que aprendemos os valores fundamentais da vida, a partilha, a amizade, família. Voltar à família é comovente, os mais velhos estão ainda mais velhos, há novos que não conhecíamos, mudanças, os que partiram, a saudade.
Colocamos as conversas em dia, descobrimos que as palermices de infância se mantêm, as alcunhas, lugares “secretos”, cantos de histórias infinitas, estão à nossa espera para nos dizer que a nossa casa nunca dali saiu. O que levamos na bagagem é essa esperança de encontrar a nossa identidade e nela mergulharmos outra e outra vez. Vêm à memória todos os segundos que ali vivemos, orgulhosamente transmitimos aos mais novos o que vivemos, trazemos-lhe os cheiros, os sabores, a saudade. Recordar as festas da aldeia, as músicas tão nossas, as intermináveis noites de verão em que nos perdíamos em conversas tão longas quantos os sorrisos se manifestavam em todas elas.
Condensamos em alguns dias os desejos de um ano longe do que nos identifica e nos tem naquela teimosa lágrima que nasce de cada vez que a nossa memória nos presenteia com todos os momentos fantásticos das coisas simples, sim, porque a vida é simplesmente simples.
Voltámos! De coração cheio! Soltos, felizes! Acompanham-nos as lágrimas da saudade, o aperto das despedidas, as promessas de voltar rapidamente e promessas de nos termos sempre uns aos outros. Voltámos para mais um ciclo, mais uma espera, mais uma etapa.
Neste último ano de emigrante, na Suíça, assinalámos, entre muitos, eventos, manifestações, sucessos e, sobretudo, a incrível dinâmica da comunidade aqui radicada. Efeito pós-Covid ou não, notou-se uma extraordinária movimentação das associações de iniciativa portuguesa que, como sempre, transportaram a nossa cultura para terras helvéticas e a dão a conhecer às novas gerações e também à sociedade suíça. Fortes, cada vez mais fortes, orgulhosos das nossas raízes, demonstramos a cada dia que passa que somos capazes de tudo, assim o queiramos. Há hoje um enquadramento diferente, a emigração tradicional mantém-se agora aliada a uma nova onda de compatriotas que, formados pelas melhores escolas portuguesas, aqui chegam para desenvolver os seus conhecimentos em áreas distintas. Acrescentam uma dinâmica diferente e positiva ao que já era de excelência, transformam para melhor a nossa presença e acrescenta-nos uns centímetros ao nosso ego, ao nosso sentir de ser português.
Na positividade deste ano que passou, restam algumas arestas espetadas nas “costas” dos emigrantes. Os sucessivos governos continuam a não querer ouvir o que temos a dizer e, como sempre, simplesmente ignoram todas as promessas que nos fazem. Não obstante continuarmos a ser um dos maiores investidores em Portugal, nem isso desperta quem governa para concretizar as propostas que fazem e que depois retiram, eleições passadas e lugares atribuídos. Esta descrença e falta de confiança está em crescendo e poderá, a breve prazo, dar lugar a movimentos de origem na diáspora que realmente possam defender as reivindicações dos emigrantes.
Neste período, assistimos à chegada de um novo Embaixador de Portugal, o Dr. Júlio Vilela, já nosso conhecido pelo excelso trabalho que fez aquando da sua passagem em Genebra enquanto Cônsul-Geral daquele Consulado. Foi e é uma grande e boa notícia. O Dr. Júlio Vilela é alguém de muito positivo, próximo da comunidade e dotado de uma capacidade de trabalho “especial” no que toca ao trato, comunicação e colaboração com a comunidade. Prevê-se um “reinado” muito positivo e saúda-se a sua chegada.
Uma nota de grande pesar pelo falecimento do cônsul-geral em Zurique, Dr. Paulo Maia e Silva, que deixou grandes saudades a todos os que com ele se cruzaram.
Em sentido contrário, deixa-nos o “nosso” Cônsul-Geral do Consulado em Genebra, o Dr. Bruno Paes de Moreira. É com muita pena que assistimos à sua inevitável partida, carreira diplomática oblige. O seu exercício espelha a sua personalidade, empenho, rigor, trabalho, colaboração, acessível em todos os momentos. É com estes representantes que Portugal ganha na sua credibilidade diplomática, mas, sobretudo, na interação com as comunidades por esse mundo fora. Uma palavra muito especial para o Dr. Bruno Paes, foi um enorme prazer termos tido a honra de o ter por perto. Passámos juntos a pandemia e vivemos momentos de grande celebração e convívio, como, por exemplo, a comemoração do Dia de Portugal em Genebra, onde pudemos assistir ao modo embevecido com que assistiu, apoiou e deu força para que aquele evento tivesse lugar. Uma comemoração que há muitos anos não se realizava na Suíça e que juntou mais de 15 mil pessoas ao longo de três dias de festa. Além disso, o Dr. Bruno Paes é uma pessoa de trato excecional, atento, amigo com quem pudemos contar em muitos momentos. Sempre ativo em defesa da comunidade, auscultando, sentindo o pulsar da nossa dinâmica, sugerindo e apoiando muitas e variadas iniciativas. É com muita pena que nos despedimos dele desejando-lhe o maior dos sucessos na sua carreira, extensível à sua maravilhosa simpatiquíssima família. A vida concedo-nos alguns privilégios e a sua passagem por terras helvéticas é algo que será recordado por muito tempo. Obrigado e um grande abraço em meu nome pessoal e da equipa da Rádio Arremesso.
Uma palavra muito especial a todos que contribuem com o seu tempo, conhecimento e trabalho árduo em todas as associações em toda a Suíça, extensível à nossa diáspora por esse mundo fora. Enfrentamos grandes e novos desafios, sempre firmes e empenhados na nossa história cultural riquíssima, honram todos os portugueses e são uma demonstração firme das nossas enormes capacidades.
Começa um novo ciclo. Vêm aí novos desafios. Estamos preparados para todos eles, afinal somos portugueses… sabemos fazer tudo e nunca dizemos que não.
Abração a todos e mãos à obra!!!