› Lurdes Gonçalves
Na manhã do dia 24 de fevereiro, a Aula da HEP-BEJUNE, em Biel/Bienne, encheu-se para mais uma cerimónia de entrega de Certificados de Proficiência Linguística. Esta cerimónia destina-se aos alunos de C1, que concluíram todo o percurso no EPE e destaca ainda os alunos que obtiveram as três melhores classificações dos níveis B2 e B1.
Dos 1044 alunos que prestaram provas em maio do 2023, 272 eram de nível C1, representando um pouco mais de um quarto da totalidade dos alunos. Esta percentagem tem-se mantido entre os 20% e os 27% ao longo dos anos, o que muito nos orgulha, dado que traduz o empenho dos alunos e respetivas famílias na manutenção da frequência dos cursos EPE até ao grau mais elevado.
80 jovens receberam os seus Certificados, entregues por Sua Excelência o Embaixador de Portugal na Suíça, Júlio Vilela e a pela coordenadora do EPE, Lurdes Gonçalves.
Como referiu o Senhor Embaixador no seu discurso inicial, ao felicitar as famílias presentes, a língua portuguesa é um veículo de enriquecimento académico e cultural, e um instrumento de contínua e futura valorização escolar e, quantas vezes, profissional. Conhecer melhor e ver depois reconhecido o conhecimento da língua de Camões, é um ativo de marcada importância, que não só nos enriquece como seres humanos, mas que também nos pode abrir perspetivas risonhas de futuros profissionais com sucesso.
Na verdade, as famílias desempenham um papel fulcral para acompanhar os seus educandos neste percurso, estimulando-os a serem perseverantes e continuamente a ultrapassarem obstáculos, conquistando o futuro a cada passo. E neste evento também destacámos o papel do último tesoureiro da extinta comissão de pais de Biel/Bienne, Sr. Anselmo Santos, pela sua dedicação e apoio abnegado aos cursos de língua e cultura portuguesas.
A cerimónia teve como mote o início da celebração do nascimento de Camões, mais precisamente há 500 anos, um mês e um dia, nas palavras de António Carvalho, que juntamente com Maria da Luz Silva, apresentaram o evento, preparado com o apoio da equipa de Comunicação Social e Imagem, Cidália Carvalho, Cláudia Pereira e Teresa küffer, e os professores de apoio em Berna, Raquel Rocha e Sílvio Coutinho.
Porém, esta cerimónia é sobretudo uma festa para os alunos e tivemos o prazer de ouvir o testemunho de Laura Strub, ex-aluna do EPE. Partilho as suas palavras, que certamente refletem o sentir de muitos alunos e que poderão inspirar muitos outros a continuar a frequentar as aulas de português.
Obrigada por me terem convidado para vos contar brevemente o que fiz depois de ter passado no exame C1.
Para mim, a escola portuguesa foi um sítio de convívio e de acesso à nossa cultura.
Sou portuguesa da parte da minha mãe, mas cresci na Suíça, rodeada pela cultura suíça e pela língua alemã. Faltou-me o ambiente português ao meu redor, por isso, a escola portuguesa permitia-me respirar um pouco desse ambiente.
Portugal era para mim uma Pátria cuja língua eu só conseguia falar mal. Na escola portuguesa, conheci novos amigos e partilhei com eles as nossas experiências de «ser portuguesa», dando-me a oportunidade de descobrir o que nos define enquanto povo.
Quando era criança, sentia alguma relutância em falar português, era estranho para mim, destacava-me do meu ambiente de língua alemã e via isso como uma desvantagem. Não gostava de ser diferente e não gostava de ser rotulada / etiquetada, pelos meus colegas suíços, de: «a portuguesa». Quando ia a Portugal, era «a suíça». Sentia-me sempre a estrangeira, e levei muito tempo para aprender a lidar com essa situação.
Hoje, posso dizer que tenho orgulho em viver na Suíça como portuguesa. A nossa língua, cultura e história permitiram-me aprender outras formas de pensar e abriram-me outras «portas».
Há oito anos, tal como vocês, fiz o exame C1 e terminei as minhas aulas de português e o ensino secundário. Não sabia bem o que fazer depois de sair da escola, por isso passei um ano em Neuchâtel para aprender melhor francês. Depois, estudei língua e literatura alemã em Berna e prossegui com o mestrado em sociolinguística. Não sei se já ouviram falar desta área de estudo? A sociolinguística estuda a forma como a língua influencia a nossa sociedade e, inversamente, como a sociedade molda a língua.
– Porque é que os jovens falam de forma diferente dos adultos?
– Como é que nos identificamos pessoalmente com o nosso dialeto?
– Porque é que a linguagem jurídica é tão difícil de compreender?
Há muitas áreas nas nossas vidas em que a língua desempenha um papel central, pois é um dos meios mais importantes de comunicar com os que nos rodeiam.
O meu próprio envolvimento com a identidade e a língua portuguesa contribuiu certamente para que me familiarizasse mais rapidamente com os temas e me identificasse com muitos dos temas que surgiram durante os meus estudos, seja como funciona a perceção de uma minoria linguística num país, ou porque é que certos grupos populacionais são mais rapidamente aceites do que outros.
Durante este tempo, aprendi o valor das línguas.
Antes, para mim, uma língua era apenas um meio de comunicação, falava-se para dizer alguma coisa, nada mais, nada menos. Passado algum tempo, apercebi-me e aprendi que as línguas são muito mais do que isso: as línguas são um meio de ligação entre nós enquanto sociedade, podem contribuir para fomentar um espírito comunitário e permitir-nos trocar ideias numa relação cordial, económica e política. No entanto, as línguas são também um mecanismo de confronto; as barreiras linguísticas podem conduzir a mal-entendidos que, por sua vez, podem levar a conflitos ou guerras. Estou certa de que todos nós já passámos por situações em que uma pessoa fez uma afirmação e a outra interpretou-a de forma completamente diferente.
A linguagem não tem de ser sempre verbal, os nossos gestos e expressões faciais também fazem parte dela e ambas são determinadas pela nossa cultura, tal como a nossa interpretação das afirmações. Por isso, se antes eu via a língua portuguesa como uma desvantagem, agora vejo-a como uma enorme vantagem para nós: conhecemos tanto a cultura portuguesa como a suíça, vivemos em ambas e compreendemos a forma de pensar de ambas. Não importa para onde viajemos, onde trabalhemos ou com quem falemos, temos pelo menos duas línguas na bagagem e temos a experiência em navegar entre as nossas próprias culturas e a de outras pessoas.
Alguns de vós já sabem exatamente quais serão os vossos próximos passos em termos de trabalho ou de estudos e outros estão à procura do caminho certo. Tenho a certeza de que, graças à vossa ligação à cultura portuguesa, terão a vantagem de se adaptarem melhor a muitas situações da vida, de lidarem mais facilmente com pessoas de outras partes do mundo e acredito que, por terem chegado tão longe e conquistado este diploma, também alcançarão os vossos próximos objetivos!
Dankä fürs zuelose! Merci pour votre attention! Obrigada pela vossa atenção!
Esta cerimónia representa a “cereja no topo do bolo” de um percurso longo de muito trabalho e perseverança que certamente a Coordenação de Ensino irá continuar a promover. Pelo profissionalismo, rigor e dedicação, a todos o meu reconhecido agradecimento.