› Ilídio Morgado
Luísa Amorim empresária CEO da Quinta Nova da Nossa Senhora do Carmo, Taboadella e Aldeia de Cima, esteve na Suíça para apresentar os seus néctares vinícolas. Convicta no que faz e com as ideias bem claras, encontrámos a empresária que tem grande proximidade em todas as fases de elaboração e produção do vinho. Imagina, idealiza os vinhos, estuda, experimenta, estuda o mercado, define o target…, ela está em todas! Nem o design das garrafas e das embalagens lhe escapa. Gere tudo em equipa em harmonia com as boas práticas comerciais familiares e das suas experiências. Dentro deste espírito foi com grande satisfação que estivemos um pouco à conversa
A família Amorim é sobejamente conhecida, e reconhecida em Portugal. Esta recente paixão pelo vinho como é que surge?
A família Amorim sempre esteve ligada à natureza, quer pela actividade ligada à cortiça, onde somos líderes mundiais, quer noutras actividades, entre elas a vinicultura, podemos dizer que é recente, mas a nossa ligação à terra está bem enraizada na nossa família.
Todos temos uma vertente comercial muito forte, somos ligados, ligados ao mundo, aos sabores que encontrámos, aos produtos tão variados. Como forma de valorizar a excelência do que a terra oferece, desde os produtos ao turismo, o meu pai, por volta dos anos 90 decidiu que seria interessante investirmos nessa vertente e adquiriu uma primeira quinta que produz vinho do Porto, pode-se dizer que foi por essa altura que começou a aventura vinícola da família.
Por essa altura eu estudava nos EUA e não estava a pensar dedicar-me à parte vinícola, a minha primeira incursão profissional foi no turismo. O facto de ter viajado, conhecido outros sabores, outras terras, despertou-me o interesse no vinho e na terra, no que podemos fazer para o valorizar. Fui educada com base do trabalho, na resiliência da valorização do que temos de bom, e a nossa terra tem produtos e valores que são muito bons, entre os melhores. Para responder ao crescendo da procura de produtos gourmet, diferenciados, investimos na excelência dos produtos e destas nossas terras que tanto têm para nos oferecer.
“Fertilidade imaginativa”. É uma expressão sua que reflecte a genética da família? É formada em hotelaria, marketing, a genética ajudou a arrumar isto tudo em produtos de excelência?
Não sei onde disse isso, mas de vez em quando saem-me umas frases dessas. Sempre digo à minha equipa que o bom é obrigação, temos do melhor e assim temos de o valorizar procurando a excelência. Definimos o caminho e tentamos sempre fazer melhor, temos à nossa disposição tanta coisa para descobrir que seria um desperdício não transformarmos o bom em excelente. Entendemos que devíamos apostar em mercados de nicho e por isso temos de dominar todas a as áreas para termos o resultado que procuramos, a excelência, sabendo que existem outros que estão no mercado e a quem desejamos que tenham igualmente sucesso, por isso teremos de nos especializar no que fazemos para nos diferenciar. Somos muito profissionais e trabalhamos com excelentes profissionais que nos ajudam muito em tudo e sem os quais não conseguiríamos ter o sucesso que temos.
A criação do vinho obedece a estudos prévios ou o gosto pessoal tem um papel fundamental?
Vai surgindo. Não sou enóloga. Ou é porque acho que falta algum vinho, ou porque provei castas que não conhecia, vai por aí. Este ano vamos fazer dois Rosés das mesmas castas, mas plantadas em regiões diferentes, Quinta Nova (que já existe) e Taboadella, um desafio, dois rosés “irmãos” mas diferentes, veremos qual a reacção do consumidor. O da Taboadella vai ser colocado em cuvas de cimento, o que se traduzirá num vinho seco. Esta forma de vinificação é uma das muitas que recuperamos de tradições locais e saberes ancestrais. Adaptamo-las às nossa experiências e novas formas de tratar o vinho e os resultados têm sido muito positivos.
A Quinta da Taboadella é o projeto mais recente. Nasceu de uma vontade de ter algo diferente?
Há uns anos, em vez de viajarmos para outras regiões vinícolas, fomos ao Dão e foi uma boa surpresa. Descobri a casta Alfrocheiro, que não conhecia e que adorei. Esperámos por uma oportunidade para adquirir uma quinta, investimos bastante, foi quase tudo de raiz, e hoje temos um produto extraordinário. A região é fantástica e merece o investimento.
Quando começam um novo projeto, como o da Taboadella, por exemplo, têm preocupação de assimilar a sabedoria, cultura local e envolvê-los na vossa dinâmica?
Quando começamos a Taboadella, fizemos mais de 100 provas de vinhos até afunilarmos para decisão. Quanto às pessoas, tentamos trabalhar com quem conhece a região não sendo obrigação. Tentamos respeitar as tradições e a a cultura local, adaptando a nossa forma de trabalhar, conscientes que também aportamos uma dinâmica adaptada à realidade actual. Levamos tudo o que aprendemos por esse mundo fora para que desse casamento possa resultar em sucesso para todos.
Fala das quintas, vinhos e futuros projetos com a paixão de quem realmente ama o que faz. Além disso domina completamente todos os processos de produção de vinho, desde o cultivo, escolha de castas, vindimação, etc. Mesmo com o sangue comercial tão presente, a paixão sobrepõe-se?
Claramente. Tenho a consciência do nome e recursos da minha família, mas trabalho desde os meus 21 anos sempre procurando aprender em cada posto de trabalho em cada projeto. Nada se faz sem trabalho e sem paixão. Certo que poderia fazer outras coisas, mas o chamamento da terra foi o mais forte, por isso, aqui estou eu, de corpo e alma. Para mim é primordial conhecer os produtos que proponho aos consumidores, tenho de os conhecer de A a Z, só assim o resultado será o que esperamos, vinhos de média e alta gama, bem estruturados, elegantes, capazes de serem facilmente reconhecidos pela sua qualidade.
Blanc de Noirs, um vinho branco feito de uvas pretas, Taboadella Alfrocheiro, Grande Villae, Quinta Nova, Mirabilis Branco e Tinto, Quinta Nova Vinha Centenária parcela 28. São alguns dos exemplos dos vinhos que produz, denominador comum, a excelência.
Mencionou esses e poderíamos falar de muitos mais. Como disse anteriormente, estes vinhos inserem-se na nossa estratégia de “fabricarmos” nicho de mercado para eles. São vinhos pensados para o consumidor que pretenda ter um vinho de grande qualidade a preços acessíveis, embora sejam vinhos de média e alta gama. Neles está a nossa paixão e respeito pela natureza e pelo homem.
A Luísa fez questão de vir pessoalmente apresentar alguns novos vinhos ao mercado suíço. Que representa este mercado?
A Suíça é um mercado que assimilou bem os nossos vinhos. A receptividade foi, e é, muito boa, devido também ao excelente trabalho efectuado pelos nossos parceiros locais, a Southwine e o Sr José Caraça. Estamos em fase de crescimento e temos as melhores expectativas quanto ao futuro.
Luisa Amorim, foi um enorme prazer ter esta pequena conversa, gostaria que deixasse uma mensagem à nossa comunidade.
Agradeço o convite e a oportunidade de poder “explicar” os nossos vinhos e desejo muitas felicidades aos portugueses que por aqui se esforçam para terem uma vida melhor, pedindo que bebam um bom vinho, com moderação. Provem os nossos vinhos. Obrigado