António Carlos Cardoso Rodrigues tem 33 anos e vive no cantão Ticino, na parte italiana, “na linda Vale di Blenio”, em Dongio. Natural de Travanca, no concelho de Armamar, distrito de Viseu, António Rodrigues está a viver no país helvético desde 2007. Ao Gazeta Lusófona, este português contou como é viver neste país europeu e sublinhou os desafios de ser emigrante.
Em que locais de Portugal tem família?
Travanca, Régua, Porto, Lisboa, Açores.
Como é a sua vida na Suíça?
A minha vida na Suíça é perfeitamente normal, família, trabalho, algum divertimento.
Como é viver na Suíça?
Os primeiros dias foram muito difíceis, chorei muita lágrima, apesar de ser um jovem muito aventureiro, sair mais uma vez da minha zona de conforto não foi fácil, as saudades da minha família, os meus pais, o meu irmão, primos, os meus amigos, a minha terra, foi difícil, mas adaptei-me muito bem, gosto de viver na Suíça, é a minha ‘segunda’ casa, ainda hoje estou sempre a procura de inserir-me muito mais na sociedade e cultura suíças como, por exemplo, na língua ‘seus dialetos ticineses’, costumes, gastronomia, escola.
Em que trabalha na Suíça?
Eu trabalho na construção civil, sou pedreiro, um trabalho muito duro, há muita pouca gente a querer fazê-lo, mas, ao mesmo tempo, muito gratificante, é um privilégio ver as famílias para quem trabalho investirem as suas economias para melhorarem as suas casas ou contruir de novo os seus lares e, no final, ficarem felizes com o nosso trabalho.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Sim! Sempre que posso convivo com a comunidade portuguesa, família, amigos, festas. Por exemplo, durante 14 anos todos os fins de semana, feriados ou assim, sempre que haja hipótese, temos um grupo de Amigos de Travanca que nos encontramos sempre para conviver.
Como os portugueses são recebidos no país?
Os portugueses são recebidos muito bem, eu, por exemplo, fui muito bem recebido na Suíça pela comunidade, isso também ajudou muito a minha adaptação. Nós, os portugueses, somos conhecidos como pessoas civilizadas, respeitadas e trabalhadores.
Frequenta associações portuguesas?
Sim, quando posso, gosto de frequentar, especialmente nos bailaricos, faz lembrar as nossas origens e dá para ‘matar’ as saudades.
Como consegue matar as saudades de Portugal?
Férias. Sempre que posso regresso a casa, e tenho por hábito ou tradição percorrer a minha terra, a famosa voltinha a rotunda de Travanca.
Vive com a sua família?
Sim. Vivo com os meus pais, irmão, cunhada e as minhas Princesas ‘sobrinhas’.
Qual é o sentimento quando regressa a Portugal de ferias?
É um sentimento único, inexplicável, muita felicidade, muito amor no coração, cada um a sua maneira, só quem é emigrante é que percebe. Regressar às nossas origens é uma sensação de mais uma conquista feita por nós.
Pensa voltar a viver em Portugal algum dia?
Sim! Quando? Não sei, mas, penso muitas vezes e quero voltar a viver na minha terra: Travanca.
O que conquistou na Suíça até agora?
A minha maior conquista foi voltar a ter a minha família, pais, irmão pertos de mim, a nível pessoal, formação profissional curso da GRU, e formação: Curso de pedreiro, ambos cursos federais da Suíça.
Tem filhos?
Ainda não. Espero um dia ter, é um dos meus sonhos.
O que a Suíça significa para si?
Para mim, significa um futuro melhor.
Que imagem tem de Portugal?
Eu nasci e cresci em Portugal, é um País maravilhoso, um povo único, com um potencial enorme para sermos ‘independentes’ de outros.
Como e por que foi viver nesse país?
Eu vim de férias com o meu primo em 2003 pela primeira vez na Suíça nesta região em casa dos meus tios já residentes aqui, e gostei muito. Como sou apaixonado por aventuras, em 2007 surgiu a oportunidade de trabalho, sempre com conhecimento dos meus tios, e não hesitei, e aqui estou eu. Vim viver neste país pela falta de oportunidade de trabalho em Portugal, vim a procura de um futuro melhor, em Travanca, e arredores, praticamente no Norte interior, há muita falta de novas oportunidades para os jovens. Talvez poderia ter imigrado no meu país e lutar pela minha formação em Portugal, mas, não era a melhor opção, para estar longe de Travanca e da minha família optei por ser emigrante.
O que espera do futuro?
Não sei. O futuro a Deus pertence, mas vou continuar a lutar pelos meus sonhos, fazer novas aventuras e novas conquistas.
Qual a diferença de vida entre Portugal e a Suíça?
A questão financeira, o poder económico. Aqui trabalhamos, em Portugal ‘gozamos’ férias.
A língua é um problema?
Sim e não. O italiano é uma língua latina divertida e simpática que se percebe muito bem, mas, gramaticalmente, muito difícil, ainda hoje sinto alguma dificuldade na língua, por exemplo, os suíços falam o ‘dialeto ticines’ que eu adoro muito, já os italianos emigrantes falam os seus dialetos rurais das suas origens, no trabalho, trabalho com frequência com portugueses, por isso, fica muito difícil de falar bem a língua.
Como a pandemia impactou o seu dia a dia e o da sua família?
Inicialmente, muito negativo, era uma novidade, ninguém sabia como reagir, todos os dias havia uma ‘teoria’ diferente, não sabíamos como lidar, “ainda hoje é difícil”, mas, custou-me imenso estar fechado em casa, sem poder ver a família e os amigos. A mim, principalmente, custou-me muito não poder abraçar as minhas sobrinhas, por exemplo, estar tão perto e ao mesmo tempo estarmos longe.
Por fim, como vive o coração do emigrante português na Suíça?
Gosto muito de estar aqui, mas o meu coração vive completamente apaixonado por Travanca, por Portugal.
Ígor Lopes