Ana Lúcia Lopes Avelar tem 44 anos de idade e é natural de Torres Vedras, Portugal. Tem família no concelho de Mafra e Sobral de Monte Agraço. Vive hoje na Suíça, em Forel (Lavaux), no cantão de Vaud. Conversamos com esta portuguesa sobre a vida na Suíça.
Como é a sua vida na Suíça?
É uma vida ao que se possa chamar normal, durante a semana, dedico-me ao trabalho e à casa e ao fim de semana vou às compras e tento conhecer um pouco deste país lindo!
Como é viver na Suíça?
É bom, é calmo, as casas são superconfortáveis (coisa que não existe em Portugal a não ser que se gastem fortunas em aquecimento), somos bem recompensados pelo nosso trabalho, é organizado e funciona!… Eu estou a gostar muito!
Em que trabalha na Suíça?
Numa fábrica de embalagem de cosméticos e café.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Muito pouco! Tenho meia dúzia de amigos e algumas colegas de trabalho.
Como os portugueses são recebidos no país?
Eu não tenho queixa alguma a fazer, fui sempre bem recebida em todo o lado e sempre me explicaram e ajudaram em todos os passos a dar para tratar de todos os documentos legais obrigatórios.
Como consegue matar as saudades de Portugal?
Indo lá com frequência! Cheguei cá em novembro de 2021, irei lá brevemente, pretendo fazê-lo a cada três meses, mais ou menos, deixei lá os meus pais que já não são jovens e não quero estar muito tempo sem os ver pessoalmente.
Vive com a sua família? Pensa em voltar a viver em Portugal?
Sim, que no caso é só marido. Penso viver na minha reforma.
O que conquistou na Suíça até agora?
A paisagem, o conforto e a organização. O facto de podermos tratar de assuntos estatais sem ter filas imensas, nem ter de ir para as referidas filas de madrugada.
O que a Suíça significa para si?
Significa um sonho realizado, pois, desde muito jovem que ambicionava esta aventura, mas sozinha não tinha coragem. Após muitos anos, e com a companhia certa cá estou eu a encarar a aventura aos 44 anos. Significa também poder fazer parte de um país funcional e justo e poder ser recompensada pelo trabalho, qualidade de vida agora, mas principalmente garantir uma velhice melhor.
Que imagem tem de Portugal?
Um país lindo, com excelente comida e clima. Mas, infelizmente, muito malgovernado. Muita corrupção, muitos poderes instalados, o que dá aso à imensa falta de justiça. Os ricos roubam e são perdoados, os pobres pagam sempre a fatura do que os ricos roubaram e parece que estão adormecidos, pagam e não reclamam, por medo que fique pior ainda. Os ricos, altos cargos políticos e os banqueiros cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Paga-se uma miséria pelo trabalho e cobram-se impostos exorbitantes em tudo. O português para sobreviver tem de ser excelente gestor, para conseguir “esticar” o ordenado até ao fim do mês, e não consegue usufruir da vida, vive para pagar contas. As pessoas são iludidas, enganadas e manipuladas ao belo prazer dos políticos e dos seus protegidos. Tínhamos tudo para ser um país muito grande, mas, infelizmente, estamos cada vez mais pequeninos.
Como e por que foi viver para a Suíça?
Vim por total desilusão para com o meu país, por ter dificuldade em aceitar certas decisões e ver que à minha volta todos se acomodam. E, como sozinha não mudo um país, mudei-me eu! E vim também para tentar garantir a minha reforma, pois, cada vez, acredito menos que com a reforma miserável portuguesa (se é que ainda haverá) dê para ter um fim de vida digno.
O que espera do futuro?
Espero principalmente saúde e trabalho. Com estes dois elementos, o resto vem por arrasto.
Qual a diferença de vida entre Portugal e a Suíça?
É imensa. No rendimento, nos custos de vida, na saúde, na organização estatal. Mas estou cá há muito pouco tempo para conseguir ser muito pormenorizada.
A língua é um problema?
Um bocadinho. Estudei alguns anos francês, mas já foi há 20 anos. O francês que estudei é o da França, que não é igual ao francês da Suíça. Mas vamos conseguindo comunicar com algum “jogo de cintura” tipicamente português. Mas vou agora começar a frequentar um curso de francês direcionado para os emigrantes, o que vai ajudar muito.
Como a pandemia impactou o seu dia a dia e o da sua família?
Eu passei uma grande parte da pandemia em Portugal e em teletrabalho, já o meu marido foi sempre trabalhar para a loja onde trabalhava, para ele não mudou nada.