Agosto é sempre o mês que simboliza férias para os portugueses, principalmente para os que trabalham fora do país. É tempo de regressar temporariamente às raízes, visitar amigos, estar com familiares, participar nas festas das aldeias e passar alguns dias na praia, na montanha ou no campo.
Este é um período consagrado ao repouso e às festas, se tivermos em conta a origem da palavra “férias”, do latim “feriae”. Contudo, no latim vulgar, o significado é direcionado para o “mercado, feira”. Tal modificação semântica estará relacionada com o facto de os dias de festas religiosas “serem aproveitados para comércio nos locais” de tais manifestações, como explica o linguista José Pedro Machado (1914-2005) no terceiro volume do “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, p. 31 (3.ª edição, 1977), acrescentando que “esses dias de festa eram também dias de paz: a quotidiana luta pela vida ficava suspensa, as diferentes classes da sociedade, incluindo os escravos, esqueciam os abismos que as separavam; observe-se ainda que durante as férias latinas até as cidades que tinham guerra entre si celebravam sacrifícios em comum”.
Também é curioso que a língua portuguesa mantém a “feira” na designação dos cinco dias intermédios da semana. Ao contrário do que muitos julgam, “domingo” é o primeiro dia da semana (“prima feria”) e sábado o último (“septima feria”). Isto é, o primeiro e o último dia da semana são de descanso (“feria”). Quando se deseja bom fim de semana é apenas referente ao sábado. No entanto, no português vulgar associamos o domingo como sendo final de semana, ou o “oitavo dia”.
Todavia, o que interessa a todos os portugueses que passam 11 meses da sua vida trabalhando, durante o ano, no país helvético, é que este merecido descanso seja de alegria, convívio e de recuperação de energia mental, porque física já sabemos os abusos que acontecem, não fosse a gastronomia portuguesa uma das melhores ou a melhor do mundo.
Depois, é dar um abraço aos familiares e regressar à Confederação Helvética, nascida do pacto de 1291 firmado entre três vales dos Alpes – Uri, Schwytz e Unterwald – até porque “a história surpreende-nos onde nascemos. Vim ao mundo na Suíça.”, como escreveu o suíço Jean Ziegler no seu livro “A Suíça acima de qualquer suspeita”, p. 11 (1976, Editora perspectivas e realidades).
Por isso, boas férias a todos os assinantes, colaboradores, leitores e anunciantes. Até setembro…
Adélio Amaro