Rui Pedro Gonçalves Duarte tem 40 anos e é diretor-geral de uma empresa tecnológica B2B na Suíça. Conta com formação em Economia Política pela London School of Economics (LSE) e Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra e uma carreira “que passou tanto pelo setor público como pelo privado”.
Vive em Pully, na região de Lausanne. É natural de Viseu, Portugal, mas “vivi a maior parte da minha infância e juventude em Coimbra”. Em solo português tem família, “sobretudo, em Coimbra, mas também tenho ligações à região do Porto e Viseu”.
Profissionalmente, hoje, atua diretamente com o mercado suíço, alemão e austríaco no âmbito do grupo “Loop Future”, uma empresa de software e transformação digital, além de colaborar como perito em políticas de inteligência artificial numa plataforma internacional de governança de tecnologia. Tem mantido ações também no campo literário, já que é autor do livro “Statecraft 3.0: The Age of AI Diplomacy”.
A sua chegada à Suíça aconteceu por razões profissionais, com o objetivo de “expandir a minha carreira, mas, sobretudo, de dar um projeto de futuro mais próspero às minhas filhas” e, “rapidamente, percebi que este país me desafiava a crescer, a repensar e a reconstruir um novo eu”.
“A vida na Suíça é organizada, exigente e profundamente internacional. É um país que estimula o mérito, mas também nos convida a abrandar e apreciar o quotidiano, sobretudo junto à natureza. Viver na Suíça é viver num equilíbrio entre rigor e qualidade de vida. É um país pequeno, mas com uma enorme influência global, especialmente na área da diplomacia, inovação e sustentabilidade”, disse o nosso entrevistado.
Sobre conviver com a comunidade portuguesa na Suíça, Rui afirma que “sim”, mas “quando posso”.
“Participo em eventos culturais e gosto de apoiar jovens portugueses que chegam ao país com ambições semelhantes às que tive quando cá cheguei. A comunidade portuguesa é vista com respeito. (…) Mas gostaria de ter mais tempo para estar presente com mais regularidade. Somos trabalhadores, resilientes e, na maioria das vezes, discretos. Mas falta-nos, por vezes, ganhar mais visibilidade nas esferas de decisão e liderança”, comentou este profissional, que referiu que, para matar as saudades de Portugal, utiliza a “música, a comida feita em casa, as chamadas com os amigos de sempre e, claro, regressando sempre que possível”.
“Coimbra continua a ser o meu norte afetivo”, atestou.
No país helvético, Rui vive com a sua mulher e duas filhas: “a Carolina, jovem engenheira na área da aviação, e a pequena Olivia, que chegou recentemente para nos lembrar da beleza das primeiras vezes”.
Este cidadão português confessa existir a possibilidade de voltar a viver em Portugal algum dia.
“É uma possibilidade que está sempre em aberto. Portugal precisa de quem já viu o mundo, e eu gostaria de contribuir com tudo o que aprendi”, mencionou Rui, que avança que o sentimento quando regressa a Portugal de férias “é como um reencontro com as raízes, com o cheiro das manhãs de verão e com a sensação de casa”.
“Portugal tem um encanto único que só se sente com a distância”, frisou.
Relativamente às suas conquistas na Suíça, Rui refere “estabilidade”, re- conhecimento profissional e, acima de tudo, uma nova visão do mundo”, já que “aprendi a trabalhar com culturas diversas e a pensar em escala global”.
“A Suíça representa um capítulo importante da minha vida. É um lugar de amadurecimento, mas também um palco onde ideias ambiciosas podem ganhar forma”, adicionou.
Rui Pedro Gonçalves Duarte considera Portugal “um país de enorme potencial, com talento e criatividade, mas que, por vezes, se deixa enredar em ciclos curtos e miopia estratégica. Ainda assim, é o meu país, e nunca deixará de o ser”.
Apesar do seu amor pela terra natal, Rui reconhece a diferença de vida entre Portugal e a Suíça.
“A cultura de comunidade, o respeito pelas regras e sobretudo na previsibilidade natural e na exigência institucional. A Suíça funciona com um grau de confiança e eficiência que raramente encontramos em Portugal, mas falta-lhe a alma calorosa do nosso convívio e espontaneidade”, afiançou.
Sobre o futuro, Rui espera “continuar a trabalhar e viver aqui, contribuir para que as minhas filhas sejam felizes e tenham mais oportunidades do que eu tive, num mundo desejavelmente mais ético, mais humano e tecnologicamente responsável. E, quem sabe, um dia regressar a Portugal com tudo o que aprendi, para ajudar a construir algo maior”.
E como vive o coração do imigrante português na Suíça?
“Vive dividido. Parte de mim sente-se grato e em casa aqui. Mas a outra parte nunca deixou de sentir Coimbra, os amigos e família que deixamos fisicamente para trás”, finalizou Rui Pedro Gonçalves Duarte.
Ígor Lopes