O Gazeta Lusófona acompanhou, durante o mês de agosto, entre os dias 1 e 3, em Castelo Branco, mais uma edição do “Festival Mais Solidário”, uma iniciativa que juntou milhares de pessoas em torno da música, da solidariedade e da celebração da identidade portuguesa, reunindo portugueses emigrados na Suíça.
Promovido pela Associação de Apoio “Quatro Corações”, o evento consolidou-se como uma referência na região Centro do país, não apenas pelo seu impacto social, mas também pela capacidade de envolver comunidades locais e emigrantes. Um dos principais pontos foi a “Festa do Emigrante TVI”, emitida em direto dia 2, numa emissão especial dedicada à diáspora lusa, que recebeu o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa. A transmissão, conduzida por Mónica Jardim, Nuno Eiró e João Montez, levou quatro horas de música popular, reportagens e emoção a todas as geografias onde a TVI Internacional está presente.
A programação do festival contou com Bárbara Tinoco, Virgul, DJ Tozo, King Bigs, Mizzy Miles, Última Ceia, Sergy, “Cantar Morangos – Morangos com Açúcar” e Luppys. Numa região com fortes laços à diáspora, o evento ganhou contornos simbólicos, destacando a importância de iniciativas que descentralizam a oferta cultural e aproximam o Interior das comunidades espalhadas pelo mundo.
“Tivemos um grande prazer em poder presenciar também este ano o festival”, disse Ricardo Jorge Pereira Paralta, de 39 anos, português residente em Giornico, comuna da Suíça, no Cantão Tessino.
Natural de Lisboa, Ricardo reconhece que, “com o facto de viver há muitos anos no estrangeiro, perdi completamente uma geração. Parece que não, mas já la vão 21 anos, como os “Morangos com Açúcar”. Para nós foi um bocadinho particular o concerto porque apercebi-me que não conhecia nenhuma música que estavam a tocar, ao contrário do pessoal que estava no festival, da minha geração e dos mais novos”.
Este emigrante, que estava acompanhado pela esposa, Veronica, de 37 anos, natural de Ponto Valentino, também no Cantão Tessino, recordou que o valor maior do evento é “ajudar”.
Comunidades no centro das atenções
Emídio Sousa, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, sublinhou à nossa reportagem o aspeto solidário do evento.
“O Festival Mais Solidário é um evento que procura angariar fundos para servir refeições às pessoas que não têm. Já serviram mais de 800 mil refeições. São pessoas que trabalham voluntariamente, e que servem diariamente as refeições às pessoas. Para quem nunca teve fome, provavelmente isto não terá a força que deveria ter, mas é preciso conseguir chegar às pessoas que, muitas vezes, até têm vergonha de dar a entender que estão com dificuldades. Dar-lhes essa refeição, condições dignas de vida, é fundamental”, afirmou Emídio Sousa, que reconhece que atrações como esta contam com a presença dos membros da diáspora lusa, pois, em agosto, “há uma vinda em massa de emigrantes dos vários países da Europa, como Suíça, França, Alemanha, Reino Unido”.
Na visão de Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, a emigração portuguesa sente a sua terra mesmo à distância.
“De facto, Castelo Branco, como todo o nosso país, durante muito tempo viu os seus filhos partirem para encontrar melhores condições de vida no estrangeiro, mas há uma coisa que os liga, que é o amor à terra, o apelo da terra e o regresso em cada ano em diferentes momentos. Castelo Branco hoje é um concelho muito diferente daquele em que a maior parte dos nossos emigrantes partiram. É um concelho desenvolvido, atrativo, um local de oportunidades. E o apelo que nós gostamos de fazer aos nossos emigrantes é para olharem para essa nova realidade, para as oportunidades de negócio e de emprego, e também para as oportunidades que a cultura no nosso território proporciona, além das potencialidades do desporto”, frisou o autarca.
Resultados positivos
Para Ana Muralha, presidente da Associação Quatro Corações, o festival ultrapassou os resultados esperados.
“Esta edição superou todas as nossas expetativas. O Festival permitiu não só celebrar a música e a cultura, mas também angariar fundos e mobilizar recursos essenciais para a continuidade dos projetos sociais e solidários da Associação “Quatro Corações”, uma IPSS dedicada a apoiar famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade, em específico, na confeção e entrega de refeições quentes, a quem tanto necessita”, ressaltou Ana Muralha, que avançou que “o evento contou com a participação de 350 voluntários e 25 associações locais”, num exemplo de trabalho em rede e cooperação”, além de ter havido a “participação ativa de mais de 150 parceiros e patrocinadores que acreditam no poder transformador da solidariedade”.
“O meu sentimento pessoal é de gratidão”, disse Hélder Martins, fundador da Associação “Quatro Corações”, que revela, que, em 2024, “o público de fora do concelho de Castelo Branco representava quase 50% e parte desta população vem do estrangeiro. (…) temos sentido este peso, nomeadamente das comunidades que nos visitam”.
Este responsável afirmou que “estamos todos os dias a entregar aqui em Castelo Branco mais de 100 refeições quentes que custam dinheiro. Este dinheiro tem que ser arranjado e nós saímos fora da caixa através do Festival Mais Solidário”.
Uma das diversas associações presentes no recinto foi a Mais Lusofonia, que atua em Portugal e no cenário lusófono.
“O trabalho da Mais Lusofonia tem sido bastante exaustivo no que toca ao trabalho humanitário e, não só, dentro e fora de portas. No Festival Mais Solidário, divulgamos o trabalho que foi feito no primeiro semestre deste ano e também começamos a falar sobre o próximo semestre”, disse Sofia Lourenço.
Por sua vez, e também presente no certame, a Association Cap Magellan, com sede em Paris, realizou ações no sentido de sensibilizar sobre a ingestão de álcool e condução segura.
“Este não é o nosso primeiro ano de parceria com o Festival Mais Solidário. Estamos aqui no âmbito da nossa campanha de segurança rodoviária “Security Verão” em Portugal, onde desenvolvemos o nosso eixo dedicado aos jovens, e onde fazemos prevenção sobre os riscos do consumo de álcool e outras substâncias”, finalizou Lurdes Abreu, presidente da Cap Magellan.
Ígor Lopes