“…Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida / Que sempre que o homem sonha o mundo pula e avança…”. António Gedeão escreveu um poema fantástico, “Pedra Filosofal”, e muitos se reconhecem nestas palavras singelas.
Sonhar é das coisas mais bonitas que existe. Leva-nos a projetar, a aprender, a imaginar, a ressentir emoções e é também a fase preparatória do passo seguinte: a “caminhada” propriamente dita. Embalado nestes “sonhos”, Tiago Gonçalves lançou-se ao seu sonho e criou a sociedade Apollo Productions, sediada em Genebra, para concretizar os seu e o sonho de outros, propor artistas portugueses que poucas vezes podemos ver ao vivo em Genebra. Caso de Rodrigo Leão no passado mês de fevereiro e o próximo concerto que promete ser uma noite de grande sucesso na voz e presença de Sara Correia, artista emergente e fulgurante no panorama musical português, nomeadamente no fado.
Tiago, emigrante português na Suíça qual é a tua história?
Nasci em Portugal e vim para a Suíça com 9 meses, primeiro veio o meu pai e mais tarde vim com minha mãe, da linda localidade de Pampilhosa da Serra para Genebra.
Estudei Gestão de obras, trabalhei em empresas de construção enquanto gestor de obras e ultimamente numa empresa de limpeza onde me encarrego da gestão de dossiers, orçamentos, parte comercial, etc.
E este projeto surge como?
De quase como tudo de um sonho. O meu sempre foi o de tentar organizar eventos que saíssem um pouco da oferta tradicional de música portuguesa, que adoro. Julgo que é muito importante podermos apresentar à comunidade portuguesa, o chamado mercado da Saudade, e á sociedade genebrina, obviamente, outro tipo de propostas culturais na área da música. A música é universal nas suas inúmeras interpretações, géneros, etc., a nós temos uma história riquíssima, um passado muito consistente de músicos, intérpretes e autores de grande qualidade que transportaram a nossa língua e cultura por esse mundo fora, nesse sentido julgo que há espaço para que a música portuguesa tem o seu espaço numa cidade como Genebra e num país como a Suíça, não só pela grande comunidade portuguesa aqui instalada mas também para que outras pessoas possam descobrir a excelência da música portuguesa. Além disso é uma oportunidade para artistas portugueses se poderem apresentar em salas emblemáticas, como o Vitoria Hall, em Genebra, onde o Rodrigo Leão actuou e onde a Sara Correia irá igualmente apresentar-se.
Expectativas quanto a esse próximo espectáculo?
A Sara era a minha primeira escolha para o início desta aventura, mas, como se compreende, as agendas nem sempre coincidem com as disponibilidades das salas e a ideia sempre foi a sala emblemática do Vitoria Hall, uma sala espectacular, que se adapta perfeitamente ao fado, onde tudo se conjuga para que seja um concerto memorável, tal como foi o do Rodrigo Leão. Para os artistas também é importante se poderem apresentar em salas que sejam “meritórias” do seu talento. A Sara é a cara actual do fado, e queria começar com ela concertos a que irei nomear de «As grandes vozes do Fado» em que tentarei trazer todos os anos um artista emblemático do género, já grandes nomes se produziram aqui, mas outros há que ainda não nos apresentaram o seu talento e é isso que penso fazer daqui para a frente.
O mundo dos espetáculos e eventos, contactos com agentes, encontraste dificuldades que não contavas?
Antes de me lançar nesta aventura, que não era de todo a minha área de conforto, procurei estudar e, para isso, fiz uma pós-graduação em gesto de eventos. No curso aproveitei os contactos dos professores/formadores, que são todos do meio e que me abriram alguns contactos para poder iniciar a actividade. Há sempre dificuldades, por exemplo pensei que o agente da Sara fosse em Portugal, mas, para a Europa, a representação está com uma agência alemã, com exclusividade com alguns artistas, inclusive a Sara, detalhe que não se espera, mas que é comum. O resto do trabalho é suor e crença no que se faz. O primeiro foi uma aprendizagem muito constructiva, o espetáculo decorreu muito bem, a organização sobre rodas, o Rodrigo Leão muito contente com a sala, público, acompanhamento, e isso é importante.
A ideia é somente Genebra ou pensa expandir no resto do país?
A ideia principal é Genebra, mas há espaço para podermos fazer noutros pontos do país, em parcerias com outros produtores o que seria interessante para todos. Há público para isso e seria benéfico para todos, produtores, público, artistas e a música portuguesa. A apresentação de um artista compreende muitos aspectos, som, luz, instrumentos, logística e seria uma forma de repartir custos, porque não.
Tiago, és casado com a Catarina, pai de duas meninas, a Lia e a Júlia, de 10 e 3 anos respectivamente. Quando falaste desta aventura à tua esposa ela apoiou ou chamou-te louco?
(risos) Por acaso tenho a sorte de ter uma esposa que partilha os meus e os sonhos dela. Não é castradora e deu-me o benefício da dúvida, pelo menos tentamos e não ficamos com a eterna dúvida, e se? Com trabalho e persistência os resultados aparecem, a qualidade dos intervenientes já representa uma grande ajuda. Fiquei muito contente com a reacção do Rodrigo Leão, que já correu o mundo e que adorou a sala em Genebra, a organização e a forma como tudo decorreu, é compensador e reconfortante.
Só podemos desejar-te os maiores sucessos e ficamos à espera dos próximos concertos, sendo que a Sara Correia está agendada para 22 de outubro e os bilhetes já se encontram disponíveis, por isso, os nossos leitores que não percam esta oportunidade de verem ao vivo e a cores uma das vozes mais emblemáticas actuais e emocionarem-se com o maravilhoso mundo do fado.
Ilídio Morgado
