António dos Santos Miranda tem 41 anos de idade, é natural de Lisboa e mantém familiares em locais como Lisboa e Algarve. Mora no cantão de Schaffhausen, na parte alemã.
Nos primeiros anos de vida na Suíça, António viveu sempre sozinho, “o que foi uma grande adversidade, mas, nos últimos seis meses, consegui estabilizar para trazer a minha parceira”. Tem duas filhas, uma com 20 anos, que está a frequentar a faculdade de Psicologia, e uma com 12 anos, que frequenta o ensino secundário. Ambas estão a viver em Portugal.
António Miranda é um profissional de pintura automóvel e revela que foi esta função que o levou para a Suíça, com o intuito de “desenvolver mais o meu profissionalismo”.
“Tenho semanas muito atarefadas a nível de trabalho, visto atuar na profissão mais complexa do setor automóvel, mas que executo com muito amor, dedicação e sempre com vontade de adquirir e aprender métodos diferentes dos que aprendi em Portugal”, comentou este cidadão português, que refere que, nos tempos livres, “seja durante a semana em pequenos intervalos, seja ao fim-de-semana, ocupo-me e priorizo a criação de conteúdo digital sobre emigração para ajudar a quem está na Suíça e para quem pensa emigrar, consoante a minha experiência até agora, para que tudo se torne mais fácil porque, para mim, foi uma experiência nova e com grandes desafios”.
Sobre a vida no país helvético, António Miranda afirma ser “algo que requer muita disciplina em comparação com Portugal”.
“O que traz algumas adversidades no início; de correção de certos hábitos que temos culturalmente e socialmente. É um país muito verde, com muita natureza, onde podemos procurar-nos como seres humanos visto o contacto com a natureza e com o silêncio. O poder de compra é algo que define o país, onde conseguimos crescer a nível de independência financeira mais velozmente do que em Portugal, o que nos traz um sentido de conquista, mesmo que seja com muito esforço. Visto este ponto, compensa viver na Suíça, e apostar neste país a nível pessoal”, disse António, que explica a sua relação com a comunidade portuguesa na Suíça.
“Em tempos convivia semanalmente com vários portugueses nos clubes ou nas associações portuguesas. Hoje em dia, continuo com esse mesmo convívio, mas de forma digital, visto não ter muito tempo para poder lidar fisicamente com as pessoas, então, a forma de o fazer e de chegar a mais portugueses é através das redes sociais”, comentou.
A partir desse olhar, e de outras vivências, António Miranda avalia como os portugueses são recebidos no país.
“Falarei da minha experiência. Fui muito bem recebido e notei a velocidade das burocracias para legalizar todos os processos exigidos para morar e trabalhar de forma legal, assim como a permissão para cá residir. A forma como tratam aqui essas burocracias é algo bastante rápido e dinâmico, gosto da forma como o país está organizado”, acrescentou.
Para matar as saudades de Portugal, o nosso entrevistado diz “não conseguir”, pois “a saudade é constante e permanente”, sendo “uma emoção que tenho de educar constantemente porque, mesmo quando vou de férias a Portugal, continuo a sentir a saudade dos meus queridos familiares e amigos, sabendo que tenho que retornar à Suíça, outra vez. Ou seja, a saudade é o maior desafio de ser emigrante na Suíça ou em qualquer país, mas é essa mesma saudade que me motiva a ser emigrante”.
Relativamente ao seu sentimento quando regressa a Portugal de férias, António não esconde a alegria.
“Penso ser a emoção mais forte sentida alguma vez, quando pego no carro e vou em direção a Lisboa, sinto uma “ira” positiva por todo o caminho porque me sinto mais um vencedor emigrante em que o troféu é chegar à fronteira de Portugal, com uma lágrima no canto do olho, de grande felicidade. Saber que abracei Portugal e que vou abraçar todos os “meus”, penso que seja a maior conquista de um emigrante. Por mais que eu tentasse explicar detalhadamente não conseguiria”, confessa este lisboeta, que “tão cedo não pretendo voltar a viver em Portugal”.
“Com o aprendizado de ser emigrante, percebi que o que nos separa são fronteiras, então, eu passei a ser “Filho do Mundo” e gostaria de explorar mais países e territórios antes de retornar ao berço, Portugal. E deixo uma frase: “emigrante uma vez, emigrante para sempre””, considerou.
Sobre as suas conquistas, António sublinha a “independência financeira”, o que pensa ser “tudo que um português emigrante pretende”.
“A Suíça será nada mais nada menos que o segundo paraíso da terra; em termos de natureza, organização, disciplina e segurança pública. (…) Portugal é um berço com uma criança feliz, sou eu por ter aprendido todos os meus princípios com a cultura portuguesa. Sou muito grato. A diferença será sempre na escassez de salários, emprego e, neste momento presente, de segurança pública em que a Suíça predomina”, atestou, confirmando que foi viver nesse país após ter sido “convidado por uma empresa de pintura automóvel por terem conhecido os meus trabalhos na plataforma social Instagram”, então, “aceitei devido à boa proposta de trabalho”.
Em relação ao futuro, António prefere “viver o instante momento sem muita projeção de futuro no meu ser, como espiritual que sou; mas, como pai, espero um belo futuro para as minhas filhas”.
António não deixa de mencionar que a língua foi “a maior adversidade e barreira como emigrante, porque, se formos a comparar, a língua alemã e portuguesa são ambas complexas”.
E como vive o coração do emigrante português na Suíça?
“O coração do emigrante português acaba por estar sempre em sobressalto pelas adversidades e disciplina impostas pela Suíça”, finalizou António Miranda.
Ígor Lopes