O Trilho dos Pescadores
Caminhar é bom para a saúde física e psíquica. Numa época de stress e de excesso de peso por falta de movimento, um trilho na Costa Vicentina, numa natureza deslumbrante ao longo do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, constitui uma ótima ideia de férias. A Rota Vicentina, na sua totalidade, representa uma caminhada de 750 km no Sudoeste de Portugal.
5 etapas dum caminho de 13 etapas – Sines até Lagos
O Trilho dos Pescadores na Costa Vicentina inicia-se perto de Sines e acaba em Lagos, constituindo 13 etapas de um percurso total de 226,5 km.
No meio de março e durante a tempestade Martinho, tive a oportunidade de realizar 5 etapas deste trilho de Porto Covo até Aljezur. Andei 98 km, às vezes ao sol, muitas vezes à chuva, ao vento médio ou forte (60 a 80 km/hora) quase sempre, por terrenos diversos, caminhos de terra, areia, passando pelas próprias praias. Andei cada dia 5 até 6 horas para realizar as etapas seguintes:
Porto Covo – Vila Nova de Milfontes (19,6 km); Vila Nova de Milfontes – Almograve (14,7 km); Almograve – Zambujeira do Mar (21,5 km); Zambujeira do Mar – Odeceixe (18,9 km); Odeceixe – Aljezur (22,6 km).
Admirei em particular as povoações típicas de Almograve e Zambujeira de Mar assim como Aljezur.
Condições, datas ideais e encontros num ambiente natural e descontraído
Não é preciso ter uma condição física excecional para andar 15 a 20 km por dia. Mas, de facto, o vento forte, os caminhos de areia, a chuva, tudo isso aumentou as dificuldades. Mas é bom recordar que este foi um período especial. Em geral o vento sopra a 15-20 km/hora.
Os períodos ideais para realizar este caminho são a primavera e o outono e são de evitar os períodos quentes do verão e os três meses de inverno (dezembro, janeiro e fevereiro). É perfeitamente viável fazer esta caminhada em 5 dias e retomar o caminho onde ficou alguns meses ou um ano depois. Deste modo, poderá evitar uma fadiga excessiva ou então preveja um descanso de 2 ou 3 dias e assim poderá percorrer os 226,5 km em 15 dias.
Encontrei sobretudo casais ou grupos de duas pessoas, às vezes jovens sozinhos, mas quase nunca grupos de mais de 3 pessoas. O ponto comum a todas essas pessoas é a boa disposição, a motivação, a vontade de caminhar e o gosto pela natureza. Quando perguntei a uma dona dum hotel se 90% das pessoas que caminhavam eram estrangeiros, ela me respondeu, de maneira um pouco provocadora, que não, que não havia nenhuns portugueses. Só estrangeiros com uma maioria de pessoas vindas do norte da Europa à procura de mudança e de natureza. Com certeza devia haver alguns portugueses, mas muito poucos.
Uma beleza de Costa e uma organização perfeita da parte dos diferentes atores
A beleza desta Costa com plantas raras e ameaçadas assim como as plantas mais comuns do litoral atrai os amadores de natureza. Entre as cerca de 750 espécies, existem à volta de 100 endémicas, raras ou localizadas; 12 delas são exclusivas desta região a nível mundial. Há sítios onde a vegetação nativa mostra toda a sua diversidade e outros onde ela foi eliminada pela planta exótica mais agressiva do Sudoeste – a acácia.
Quanto à fauna, são as aves que sobressaem. Nesta região, são muitas as espécies que procriam, que invernam e até que a utilizam como plataforma de migração entre o norte de África e a Europa. A nidificação é muito comum nas arribas e falésias desta zona, com evidência para a cegonha-branca, o falcão-peregrino e a gralha-de-bico-vermelho. A nidificação das cegonhas em rochedos marítimos só acontece aqui.
Deve-se dizer que há muito profissionalismo da parte de todos os atores desta Rota Vicentina: hotéis, restaurantes, agências, transferências de bagagens. Tudo funciona na perfeição.
Com certeza também terão a oportunidade de trocar impressões e ter conversas muito interessantes com pessoas vindas de outros países. A caminhada permite a reflexão pessoal e limpar a alma. Uma maneira de se conhecer melhor e estar mais disponível para contactar com os outros.
Encontrei uma pessoa de idade em Rogil, perto de Aljezur, e pedi o meu caminho. Mesmo sendo pouco provável um dia voltar a cruzar o caminho desta senhora afável e autêntica, no fim da conversa, disse-me, com o seu sorriso tão humano e acolhedor: “Até depois”. Isso resume toda a humanidade desta Costa Vicentina.
A destacar:
- O sitio Internet da Rota Vicentina foi muito bem concebido para a preparação deste trilho. O blog também contém informações e testemunhos preciosos www.rotavicentina.com
- Tive a sorte de escolher uma agência portuguesa que teve uma atenção muito especial e me acompanhou da melhor maneira para organizar esta viagem. A agência André Tours em Lisboa esteve sempre ao meu lado para resolver todos os tipos de questões www.andretours.pt
- O Senhor André de Zambujeira Adventures foi encarregue de me transportar durante uma etapa e de assegurar as transferências das bagagens todos os dias. Que conforto e descanso poder caminhar todo o dia e encontrar sem demora as nossas bagagens no hotel. Prestou um serviço impecável e de confiança. E sempre com simpatia e humor. Uma personalidade ímpar da região www.zambujeiraadventures.com
- Em Zambujeira do Mar, um restaurante de referência para comer carne ou peixe, o Costa Alentejana, com um serviço 5 estrelas e os melhores pratos da região – uma experiência gastronómica única www.costaalentejana.pt
Clément Puippe