A Rádio Arremesso Solidária nunca tem férias! Fruto da sua capacidade agregadora junto da comunidade portuguesa, a Rádio Arremesso criou uma secção dedicada à actividade solidária/humanitária que desenvolve, especialmente, na área consular de Genebra. Camas de hospital, diverso material e mobiliário hospitalar, são enviados para instituições em Portugal, nomeadamente lares, Santa Casa da Misericórdia e Hospitais.
Os últimos envios foram no passado mês de julho, 35 camas provenientes do Hospital Cantonal de Genebra e 50 do Hospital Psiquiátrico Belle Idée, igualmente em Genebra. A par das camas, diverso material hospital de apoio foi igualmente enviado para a ULS – Lisboa, que se encarregará de reencaminhar para instituições com necessidades deste tipo de suporte. É material relativamente novo, entre 5 e 7 anos de uso, que muito ajudará aqueles que necessitam de conforto nas suas convalescenças e internamentos. Falámos com o Presidente da Associação Rádio Arremesso, Pedro Machado, acerca destas iniciativas que levam a cabo nos últimos anos.
Pedro, conte-nos como surge a Associação Rádio Arremesso Solidária e a sua acção solidária que pratica.
A AR Arremesso, tendo sido por diversas vezes solicitada para ajudar no envio de material hospitalar, decidiu propor aos outros intervenientes, a criação de uma “secção” especialmente dedicada a 100% a esta actividade. Para isso foi criada uma comissão gerida por 4 pessoas, sócios da ARA, que conjuntamente com outros intervenientes, uns mais assíduos outros pontualmente, encarregam-se dos processos de pedidos, estão atentos às ofertas de material disponibilizado pelos hospitais e estruturas de saúde na Suíça, informa a ARA e depois é muito rápido, tratamos de contactar os nossos amigos da Rádio, outros no nosso círculo pessoal, e lá vamos ajudar quem precisa e fazer o necessário que tudo corra bem, como até agora. Preparamos o transporte, encontramos quem ajude a desmontar e carregar o material e é uma grande satisfação quando no final vemos tudo devidamente acondicionado e pronto para partir. De cada vez que há um envio é uma bênção que recebemos, poder ajudar quem precisa dando um pouco de nós, não é muito, mas julgamos ser a nossa forma de poder contribuir para um mundo melhor. Aliás, só ultimamente as acções são mais divulgadas, é algo que fazemos há uns anos durante os quais foram enviadas cerca de 1600 camas, além de diverso material hospitalar, tanto material de suporte como mobiliário diverso e máquinas de limpeza e manutenção.
Como é que funciona, a escolha das instituições, as disponibilidades de material?
A escolha, se podemos dizer assim, é feita através dos pedidos que nos chegam por mail, a nós e a alguns dos colaboradores. Dizer que é necessário a identificação clara da instituição, qual o material que necessitam e a quantidade, nem sempre podemos responder positivamente porque o material que vai sendo proposto não controlamos, normalmente temos sempre instituições onde podemos orientar os materiais, mas é difícil responder a pedidos específicos por não ser possível. As camas são o mais pedido e, felizmente, há sempre uma grande rotação nos hospitais com a aquisição de camas entre 5 a 7 anos, por vezes com mais anos, e que estão em perfeitas condições, falamos de camas hospitalares com todas as valências próprias, colchões, apoios de cabeceira, etc., além de serem manobráveis, a maior parte electricamente, portanto são camas actualizadas e sem defeitos. Depois da recepção dos mails, esperamos que surja uma oportunidade, que é enunciada pelas instituições suíças, e lá vamos nós. Obviamente que temos entre nós profissionais que trabalham no meio hospitalar e que têm conhecimento desse circuito, são eles que fazem a ponte entre todos e que nos alertam para a disponibilidade de material, a maior parte das vezes quase de um dia para o outro e temos de nos apressar a encontrar os meios para podermos proceder ao envio.
Nesta nobre missão, a AR Arremesso surge como veículo preferencial por alguma razão em especial?
A AR Arremesso há muito que colabora e organiza acções solidárias, há alguns anos organizámos igualmente uma angariação de fundos para as vítimas dos incêndios de Pedrogão Grande, organizamos campanhas locais através das nossas emissões, temos colaborações com outros intervenientes solidários e estamos sempre dispostos para ajudar quem precisa. Exactamente, depois da grande Festa de 10 de junho organizada pela ARA, não param. Não paramos! A AR Arremesso granjeou uma grande confiança entre os nossos sócios e amigos que nos seguem, sabem que fazemos sempre o impossível para apresentar eventos / manifestações onde a portugalidade é tema primeiro das nossas intervenções, especialmente nos últimos 4/ 5 anos, desenvolvemos uma dinâmica mais global no que respeita aos interesses da comunidade, nomeadamente os mais prementes e outros de projecção futura. Para isso queremos envolver cada vez mais a comunidade, dar a conhecer a nossa enorme mais valia, a nossa história, cultura, passado, presente e futuro. Para isso muito contribui a confiança que os nossos patrocinadores nos dedicam e a quem estamos muito gratos pelo apoio, sem eles muita actividade não seria possível e eles sabem que podem confiar no trabalho que desenvolvemos. Assim, julgo que é o reconhecimento da nossa transparência positiva que nos ajuda muito junto da comunidade.
Sentem falta de apoio institucional ou existe reconhecimento e colaboração com os representantes de Portugal?
É óbvio que todo o apoio é importante e todos somos poucos, até porque temos muitos projetos que gostaríamos de levar à prática e precisamos de todos para os concretizar. Os nossos representantes, uns mais que outros, dependendo da personalidade de cada um e da ideia que têm enquanto representantes e a sua envolvência com a comunidade, têm sido parceiros e apoiantes proactivos, condicionados pela especificidade das funções mas com grande disponibilidade a todos os níveis. Tanto o Sr Embaixador Júlio Vilela assim como a Sra Cônsul Geral em Genebra, Leonor Esteves, têm estado sempre disponíveis para nos ouvir e discutir assuntos de interesse da comunidade, assim como com outros interlocutores. Aliás, temos uma emissão mensal, “Visita Consular”, com a presença da Sra Cônsul Geral, onde se esclarece assuntos consulares e outros de grande importância para a comunidade. Esperamos que possamos alargar as colaborações igualmente a outras associações na Suíça inteira, criar uma rede activa de intercâmbio entre os diversos cantões e as comunidades portuguesas aí radicadas. Estamos no bom caminho especialmente com a dinâmica imprimida pelo actual Sr Embaixador secundado pelos consulados de Genebra e Zurique.
Uma pergunta é fundamental, não se cansam? (risos)
Parece que não mas confesso que ser dirigente associativo é uma tarefa hercúlea! Para conseguirmos seguir em frente e não defraudar ninguém, respeitar compromissos, realizar propostas que apresentamos, projetar o futuro…é muito trabalho!!! Somo 6 elementos na direcção, a comissão Solidária são 4, e temos todos actividade profissional, família, amigos, etc. Fazemos tudo com prazer e é uma verdadeira honra saber que têm confiança no nosso trabalho, mas tudo faz mossa e a vida privada sofre muito com as milhares de horas que dispensamos por ano às actividades associativas. Julgo até que não há grande reconhecimento da importância que as associações desenvolvem junto da comunidade, há sempre palavras de circunstância, em ocasiões especias e pontuais, depois na prática e no dia a dia há um distanciamento inexplicável. Promove-se a pomposidade de actos de condecoração (sem menosprezo), por exemplo, ignorando todas e todos que há décadas dedicam a sua vida aos seus conterrâneos, sem lamentos. Muitas vezes parece-nos que temos de mendigar o que nos é de direito e isso deixa um rasto de frustração, talvez seja uma das razões para que a actual geração não se reveja muito no movimento associativo o que irá ser um desafio no futuro para a substituição de quem anda cá há muitos e muito anos.
Planos para o futuro?
O futuro é todos os dias, agora estamos todos em período de férias, não desligados, e temos de recuperar um pouco de forças e buscar incentivos para continuarmos. A AR Arremesso vai continuar a estar presente na comunidade e a divulgar, promover e organizar eventos e manifestações da comunidade. Esperamos poder cativar alguns jovens para virem dar uma mãozinha e trazer uma lufada de ar fresco, se não conseguirmos, teremos de levar o barco para a frente. Uma palavra de grande apreço para a equipa magnífica da direcção. Passamos por muito juntos, refilamos, zangamo-nos, fazemos as pazes, voltamos a refilar mas no final estamos sempre prontos, juntamos as forças, metemos as costas contra a parede e continuamos. Lanço igualmente um apelo aos leitores da Gazeta Lusófona, que estejam atentos aos anúncios de ajuda que lançamos para estas iniciativas solidárias, as camas pesam muito e já começamos a ser “velhos” para carregar tudo(riso). Uma palava de grande apreço à Gazeta Lusófona por ser nosso parceiro e por nos ajudar a divulgar as actividades que levamos a cabo.
Uma última palavra a todos os que partiram de férias, tenham cuidado nas vossas viagens, a ansiedade de chegara é muitas vezes traiçoeira, tenham muito cuidado, protejam-se.
Um grande abraço a todos a até breve.