Fazer do passado presente para melhor pensar o futuro, de maneira crítica, lúdica e recreativa. Tal é o desafio lançado pela FAPS (Federação de Associações Portuguesas de Suíça) através de um conjunto de eventos, bilingues, gratuitos e abertos a todos e a todas do 25 ao 28 de Abril.
A Conferência-Sarau musical que se realiza no dia 26 de Abril, na Sala de espetáculos do município de Prilly, a partir das 18h30m explora a história do 25 de Abril, das suas principais conquistas e das perspetivas de um futuro próximo. A Gazeta Lusófona entrevistou Ana Lourenço, responsável do projeto.
A Ana Lourenço é a responsável da realização da Comemoração do 50.° Aniversário do 25 de abril no Município de Prilly. Como surgiu a ideia? Quem é a Ana Lourenço? De que maneira está implicada na vida local?
Resido na Suíça há cerca de 15 anos e moro em Prilly, que é um município situado na região urbana de Lausanne. Sou Conselheira municipal e impliquei-me na Comissão d’integração suíços imigrantes de Prilly (CISIP) onde juntamente com os meus colegas de diversas nacionalidades e a Delegada local à integração, Sra. Anna Andreioulo foi decidido criar um evento ligado à forte presença local da Comunidade portuguesa e ao facto da Revolução de Abril ser um dos momentos mais importantes da história recente do nosso país veiculando valores universais: liberdade, democracia, direitos humanos fundamentais. Mais exatamente, o projeto surgiu no seio de uma reunião da CISIP com os responsáveis locais da FAPS. O evento insere-se, pois, num projeto mais vasto levado a cabo em colaboração com a FAPS no município vizinho de Renens e que tem o apoio das duas camaras municipais.
Qual é programa da jornada? Qual é a ideia do projeto?
Teremos um programa bem recheado. O evento abre com uma Conferência sobre a história do 25 de Abril e das transformações que daí resultaram para a vida dos portugueses, nomeadamente, o fim das guerras coloniais, a democracia e o desenvolvimento do país. A conferência será proferida pela Prof. Nazaré Torrão que leciona na Universidade de Genebra. Será dada em francês sendo que o evento tem um cariz intercultural podendo acolher populações de diversas nacionalidades. Repare que o grupo de trabalho local é constituído por pessoas oriundas de seis países diferentes. Um aperitivo volante oferecerá a possibilidade de cruzar opiniões e alimentar curiosidades. A noitada prolonga-se com Fados e guitarradas, uma intervenção artística (poesia, música, dança) dos jovens alunos dos cursos de língua portuguesa em Prilly com o apoio do prof. Manuel Vasconcelos. O Duo português Som e Música fechará o sarau em boa disposição e alegria.
Como carateriza a Comunidade portuguesa de Prilly? Acha que os portugueses residentes em Prilly vão aderir ao projeto?
O Município de Prilly acolhe 12’500 habitantes dos quais 5’500 são estrangeiros originários de 120 nacionalidades. Com 1’500 habitantes a comunidade portuguesa é a mais importante de Prilly. Os portugueses, na sua grande maioria estão bem integrados não só na economia, mas também na sociedade local. Mas nós nunca nos esquecemos das nossas raízes, das terras onde vivemos a nossa infância. Nota-se que a comunidade vai mudando progressivamente. Pessoas cada vez mais qualificadas vão chegando aqui à procura de emprego mas também de uma vida social rica e diversa. Os portugueses que hoje chegam à Suíça não querem só trabalhar e poupar. Querem também usufruir do que a sociedade lhes pode oferercer. O 25 de abril é um grande acontecimento da nossa história recente. Não duvido que a Comunidade portuguesa vai aderir ao projeto arrastando com ela as diversas componentes de uma sociedade marcada pela interculturalidade. É em todo o caso o que o Grupo de trabalho mais deseja.
De que maneira é que as autoridades municipais receberam o projeto? Que apoio oferecem à sua realização? Como se constituiu o grupo de trabalho?
A “comuna” de Prilly disponibilizou as salas para a realização do evento, assumindo também a maior parte das despesas decorrentes do mesmo. O Grupo de trabalho local é constituído como já foi dito por seis pessoas: quatro membros da CISIP, a delegada à integração e o seu assistente. A FAPS acompanhou o processo e deu apoio logístico, sendo que esta conta também com o apoio da “comuna” de Renens, da Embaixada e dos Consulados portugueses na Suíça e diversos patrocínios privados (cf. https://forumportugues.ch).
Para terminar, o que significa para si o 25 de Abril?
Nasci 12 anos depois da revolução. Mas ouvi bem o que a minha mãe me contou dos tempos da ditadura, da censura, das limitações à liberdade d’expressão, do sentimento de estar a ser sempre vigiada, das desigualdades sociais, das distâncias entre a opulência dos poucos ricos, de certos “senhores” e os poucos meios de muitos pobres. O meio padrinho foi soldado destacado para a Guiné e sempre o ouvi a criticar a guerra que o fez sofrer e que ainda hoje significa sofrimento. O 25 de Abril não resolveu todos os problemas, mas trouxe o fim da guerra, a paz, a liberdade e a democracia. É esta a memória de uma herança que vale a pena comemorar e sobretudo preservar e transmitir.