› Adélio Amaro
Paulo Fontoura nasceu em Lisboa e foi viver para a Suíça em 2008 a convite da Roche para se juntar ao grupo de investigação em doenças neurológicas e psiquiátricas
Tem um profundo percurso profissional, tendo iniciado como responsável clínico de medicina translacional, e ao fim de 2 anos ficou como diretor Global de Medicina Translacional para Neurociências. Mais tarde, passou a vice-presidente de Medicina Translacional para Neurociências, Oftalmologia e Doenças Raras.
Em 2015 ficou como vice-presidente e diretor Global de Desenvolvimento Clínico para Neurociências, e em 2020 vice-presidente Sénior, Diretor Global de Desenvolvimento Clínico para Neurociências, Oftalmologia, Imunologia, Doenças Raras e Infeciosas.
Uma das suas paixões é a descoberta de novos medicamentos. Como se desenvolve o processo para um novo medicamento?
Tudo começa com a avaliação das necessidades clínicas dos doentes, e tentar encontrar nos desenvolvimentos da ciência e tecnologia (e.g. genética, etc.) uma hipótese que valha a pena testar. A identificação de um novo alvo terapêutico leva depois a desenvolver moléculas que possam impactar esse alvo. Estas moléculas são testadas ao longo de anos em estudos animais e laboratoriais para se avaliar a sua eficácia e segurança, e so ao fim desse período se começam estudos em seres humanos saudáveis, e depois em doentes. Esses estudos podem demorar anos, e envolvem centenas a milhares de doentes em todo o mundo, antes de se conseguir a aprovação por autoridades de saúde para a comercialização, com base na eficácia e segurança observada nesses estudos.
Faz parte da farmacêutica Roche, em que consiste a sua missão?
Dirijo um grupo de cerca de 200 médicos e cientistas na Europa e EUA que desenvolvem novos medicamentos; desenhamos e executamos estudos clínicos em doentes em todo o mundo, analisamos os resultados em conjunto com investigadores em centros clínicos, e dialogamos com autoridades de saúde globais de forma a poder obter a aprovação dos nossos medicamentos.
O desenvolvimento de um novo medicamento, no seu caso, é para uma doença específica ou trabalha na investigação para várias doenças?
O nosso grupo dedica-se a investigação de medicamentos para muitas doenças; para dar alguns exemplos, desde a doença de Alzheimer e Parkinson, Esclerose Múltipla, doenças raras infantis como a distrofia muscular; doenças pulmonares crónicas como a DPCO, doenças renais crónicas, Lupus Eritematoso Disseminado; doenças oftalmológicas como a degenerescência macular da retina, e doenças infeciosas como a influenza ou o COVID-19.
Nos últimos anos, que medicamentos têm sido lançados com a sua intervenção?
Lançámos seis medicamentos novos nos últimos anos: Ocrevus, Evrysdi, Enspryng, Ronapreve, Vabysmo e Susvimo.
O mundo digital veio revolucionar a composição de novos medicamentos e aperfeiçoar outros já existentes?
Sem dúvida, e em todas as áreas de investigação e desenvolvimento; desde a identificação de novos alvos terapêuticos ao desenho de moléculas, até a analise de grandes bases de dados clínicos e laboratoriais usando Inteligência Artificial, e ao desenvolvimento de novas formas de medir os benefícios e riscos dos medicamentos e diagnosticar doenças. E esta revolução ainda está muito no início.
Existe alguma área específica na descoberta de novos medicamentos que seja a sua especialidade?
Sim; o meu treino foi como neurologista e imunologista, de forma que nessas áreas tenho mais conhecimento e experiência.
Em 2022 foi eleito membro da Academia Americana de Neurologia. Em que consiste e o que significa fazer parte de uma Academia de enorme relevo como esta?
A eleição como Fellow da Academia Americana de Neurologia e o reconhecimento do percurso científico e do impacto que conseguimos com o desenvolvimento destes medicamentos, mas mais genericamente todo o progresso que tem sido feito e gerar conhecimento que nos permitiu a nos – mas também a muitas outras empresas e cientistas – avançar para novas descobertas.
Além do seu trabalho com a Roche, é professor visitante na Universidade Nova de Lisboa e docente no Centro Europeu de Medicina Farmacêutica em Basileia. O ensino completa-o no seu processo de pesquisa e procura constante? Sente necessidade de partilhar os seus conhecimentos e processo de pesquisa com os alunos e colegas professores?
O ensino tem sido para mim uma presença constante, mesmo antes de me juntar a Roche – desde que fui estudante de Medicina tenho estado envolvido no ensino. Acho que nos torna melhores, nos obriga a estar atualizados e a aperfeiçoar a nossa compreensão da ciência – so se ensina bem o que se compreende bem. E depois adoro a oportunidade de contactar com outros investigadores, em varias fases da sua carreira, sobretudo os mais novos; acho que e nosso obrigação, e dever, transmitir conhecimentos e experiencias, de forma a ajudar os outros no seu percurso.