› Fernando Morgado
No passado dia 29 de abril, esteve em Genebra, a convite da Rádio Arremesso e da estilista Sandra Junqueira, a Miss Universo Portugal 2022, que nos presenteou com a sua beleza, simplicidade e infinita simpatia.
Sorriso luminoso, um brilho único nos olhos, simplicidade, simpatia para dar e vender, linda de morrer. A presença de Telma Madeira foi uma feliz novidade que nos deixou a todos de queixo caído e orgulhosos de sermos representados por alguém tão genuinamente português, com um carisma próprio e vincado, fruto de um percurso de vida complicado com um fim feliz. É essa Telma que se apresentou para esta entrevista, a menina que teve de superar muitos fantasmas que lhe moldaram a personalidade e a transformaram numa menina/mulher forte, consciente das debilidades, mas convicta das sua forças.
Acompanhada por outra “guerreira”, a estilista Sandra Junqueira, amiga, companheira de lutas e parceira de estrada no mundo da moda e glamour, estivemos à conversa para “descobrir” um pouco destas duas meninas.
Telma Madeira, Miss Universo Portugal 2022, menina da Póvoa do Varzim, sonhadora. De onde surgiu este desejo, desta aventura de Miss?
Olá. Grata pelo vosso convite. Este sonho “nasceu” a partir de uma fase muito complicada na minha vida. Em 2015, mergulhada numa profunda depressão, com todos os fantasmas que me assolavam, em pensamentos sombrios, houve uma luz que se acendeu de uma frase que o meu pai me disse. Estávamos a assistir ao concurso de Miss Universo na TV e o meu pai olhou para mim e disse: “Um dia vais estar nesse palco”. Foi o click que me ajudou a sair da minha depressão. Comecei a participar em concursos e, no ano passado, os organizadores da CNB Portugal fizeram-me a proposta de ser a Miss Universo Portugal 2022. Chorei durante 15 dias (risos). Tornar um sonho realidade foi algo que me transcendeu. Foi uma jornada bem longa, difícil e, ao mesmo tempo, muito enriquecedora, que me ajudou a crescer bastante no que toca à minha evolução pessoal e profissional.
A Sandra Junqueira, estilista, a residir em Genebra. Como se encontram duas meninas tão lindas para concretizarem os seus sonhos em conjunto e fazer realçar ainda mais a beleza da Telma?
Obrigada pelo vosso convite, é um prazer poder partilhar a minha humilde experiência. Acho que foi um “encontrão” (risos). Fui eu que a encontrei – diz a Telma. Destino, instinto…tudo isso. Quando a Telma me contactou fiquei, obviamente, honrada e entusiasmada por poder participar de um sonho e assim apresentar-me internacionalmente. É uma oportunidade que não acontece muitas vezes e não poderia recusar, obviamente. Foi um encontro estrelar de duas meninas guerreiras ambas filhas da Póvoa do Varzim, terra de gente humilde, capazes de grandes sacrifícios, mas onde existe muito talento. Somos mulheres resilientes e perseverantes, acreditamos no nosso trabalho, competência e, neste caso, na resplandecente beleza da Telma.
Telma, falemos um pouco do teu período menos agradável, a tua depressão. Pelo que li sobre ti, nunca te escondeste e tens planos para ajudar quem passa por situações como a tua, e outras de âmbito psicológico. Fala-nos um pouco deste teu combate.
A minha depressão surgiu durante o meu percurso escolar onde sofri de bullying. Infelizmente é um flagelo dos nossos dias que necessita de ser denunciado todos os dias, diagnosticado e adequar as terapias para que as vítimas sintam que há saídas. Na época tive um colapso profundo em que udo me passou pela cabeça, inclusive o suicídio. O apoio da minha família, o facto de não esconder a minha situação, acho que foi o motivo principal para que eu ter conseguido superar e me transformar numa mulher forte e determinada. Não é fácil. É horrorosamente doloroso e deixa marcas que se atenuam pelas pequenas conquistas que foi tendo e no carinho dos que me querem bem, como a demonstração de amizade genuína que hoje senti a qui com a comunidade portuguesa. Para ajudar outros a superar estes momentos tão delicados, criei uma Associação, Projeto Voz da Realidade, onde me empenho profundamente para combater os problemas de depressão, esquizofrenia, bulimia, tudo o que implique problemas de saúde mental. Para isso, desenvolvemos um protocolo com hospitais com o intuito de disponibilizar técnicas de ajuda a quem sofre destes problemas, nomeadamente urgências direcionadas especificamente para estes casos, entre outras. Quero continuar a ajudar as pessoas, na minha humilde contribuição, dar o meu exemplo e dizer que se pode sair, encontrar meios de superar. Dizer que aceitar a condição de doença é o primeiro passo, tratar e procurar ajuda. Dizer que não há vergonha, não se esconder. Infelizmente, o nosso SNS ainda não se encontra devidamente apetrechado para responder convenientemente e temos de continuar a lutar com o que temos. Pensamento positivo e manter a esperança.
Telma, a tua perseverança, o teu altruísmo é inspirador e desejamos que a tua voz, junto a outras, possa contribuir para combater estes problemas cada vez mais comuns (infelizmente) nos nossos dias. Pela nossa parte transmitimos o nosso agradecimento… Sandra. Estilista em Genebra. Formação em Portugal, felizmente com muito trabalho, consegues dar conta do recado ou tens de abrir uma fábrica?
Vamos com calma (risos), quero, obviamente, ter o meu trabalho reconhecido, mas quero começar por uns bons alicerces, é preciso muito esforço, muita luta, o que nos irá dar a força para conseguir atingir os nossos objetivos. Formei-me em Portugal, primeiro Modelação e Confecção e, mais tarde, por sentir que não era suficiente para o que desejava, estudei Design de Moda no Porto. Na época, as melhores marcas, estilistas, designers, nacionais e internacionais, recrutavam diretamente nestas escolas, julgo que ainda hoje continuem. Nestas escolas aprende-se o B A BA de tudo o que à moda diz respeito, desde conhecer agulhas, tecidos, coser, etc., somos formados em conhecimentos de máquinas, técnicas. São cursos muito completos, aprofundados e reconhecidos. As minhas influências são a minha inspiração. Não descuro todas as “viagens” que as estilistas portuguesas fizeram, assim como outras a nível internacional, mas sempre tive a minha visão do que queria e quero. Adapto-me ao que me pedem e proponho, só assim nasce algo de único, como julgo ter sido o caso com o que conseguimos fazer com a Telma. Na partilha de ideias e visões atingimos o que nos propusemos, e bem.
Telma. Não obstante os protocolos e programas “obrigatórios” na tua condição de Miss, encontraste espaço para este convite / desafio de nos visitar em Genebra…
Um prazer enorme poder estar aqui convosco, neste ambiente fantástico. Emocionei-me. Fora do país encontramos um sentimento do que é ser português que me deixa sem palavras. Arrepia ver a comunidade ser tão orgulhosa das suas raízes e representar Portugal desta maneira tão pura, de coração. Este sentimento tinha sentido quando voltei da minha participação no concurso de Miss Universo, é indescritível.