› Maria dos Santos
Nuno Napoleão nasceu em Santa Comba Dão, no distrito de Viseu. Chegou à Suíça em março de 2002, fixou-se em Zug, onde reside até à data desta entrevista. Homem de caráter forte, enfrenta os desafios com vitalidade e sem medos. Dono de uma simpatia singular, tem o dom de chegar aos outros de uma forma subtil. Trabalha na área da construção civil e dedicou o seu tempo ao paraquedismo militar, tornando-se a sua paixão.
Casado com a Sandra e pai de duas filhas, o Nuno sente-se realizado. Entre 1997 e 1998 exerceu funções de paraquedista militar em Tancos. Isto de saltar e estar pertinho do céu foi determinante para o homem que é hoje. Não podemos pensar que um paraquedista tem uma visão celestial, porque na verdade é uma área dentro das funções militares bem exigente.
O Nuno é um jovem cheio de sonhos por realizar e, para os concretizar, juntou-se ao seu amigo do coração, o António Soares, dono de uma experiência incrível. Assim de mãos dadas com um projeto em comum, que cada ano superam as próprias expetativas. O seu prato preferido é uma feijoada de chocos. A cor de eleição é o vermelho, não por ser benfiquista, mas sim por puro respeito ao sangue derramado pela Pátria.
Quer descobrir a experiência deste Napoleão português em Terras helvéticas? Leia o que ele descreve.
O Nuno chega à Suíça em 2002.
Como foi a sua integração e como lidou com o idioma?
Ao chegar à realidade suíça, claro que a adaptação não foi fácil. Com o passar do tempo, fui-me adaptando e acabei por me inserir e gerir as duas culturas.
Em 2002, a Comunidade que existia era bem diferente desta que atualmente temos. Tem vivido de perto esta transformação?
A nossa Comunidade foi muito unida. Construíam-se planos e todos trabalhavam para o mesmo projeto. Atualmente, a realidade é totalmente diferente. Lamentavelmente díspar.
Agora que se sente integrado, como recorda o processo que o levou até aqui?
O meu processo em pouco ou nada se alterou. Continuo a ser a pessoa que era. Tenho raízes dentro de mim que são humildes e assim seguirei.
Retorcendo no tempo, Nuno, aos 18 anos, é chamado para a inspeção militar. Tinha claro na sua cabeça o que iria escolher e por quê?
Tinha nas minhas mãos um sonho que só eu o podia realizar. Sabia o que queria e onde podia chegar.
Como aconteceu optar pelo sector do paraquedismo, sendo, na altura, um dos mais duros em questões psicológicas e físicas? Não houve receios?
O paraquedismo foi uma opção minha e quando queremos atingir um alvo, atingimos. A mente alimenta a parte física, e quando a mente nos diz aguenta, o corpo corresponde.
Como descreve a emoção do primeiro salto?
O desconhecido sempre nos deixa reticentes e com alguns medos. Depois de estar no ar, só me ocorre pensar e dizer que toquei o céu. É quase algo religioso que sou incapaz de descrever.
Sendo o paraquedismo uma área tão exigente, vocês têm acompanhamento psicológico?
O acompanhamento psicológico são os treinos diários. Estamos preparados psicologicamente para as tarefas e o exercício dá-nos a condição física.
Sempre foi um homem que gostou de estar à frente de eventos e organizou muitos em Portugal. Agora, está também com o Núcleo das Boinas Verdes do Cantão de Berna. Que diferenças existem nestes convívios realizados em terras helvéticas e os que organizou em Portugal?
Na verdade, nós trazemos muitas ideias de Portugal e as implementamos aqui. Pelo que as diferenças são muito poucas. Existe a dedicação e esforço em querer fazer bem e estar o mais perto possível de todos os que nos acompanham, seja nos eventos, jantares ou simples encontros casuais.
É administrador do grupo Boinas Verdes no Cantão de Berna, Boinas Verdes de Santa Comba Dão e dá apoio ao 199 curso de paraquedismo. Como se vive com esta velocidade, já que tem um trabalho a 100% e uma família?
Todos sabemos que precisamos de tempo para realizar os eventos e convívios. Felizmente que tenho uma família que participa com garra, pelo que somos menos penalizados em termos de família. Distribuímos tarefas e assim são dois em um. Acaba por ser sempre gratificante.
Pensa como seria se estivesse no ativo militar atualmente e fosse chamado para a missão de guerra, na Rússia?
Se tivesse no ativo e fosse chamado para uma missão, iria e exigia de mim a perfeição. Entregaria o meu coração, pois só assim me faz sentido ser paraquedista.
Ser chamado para uma missão de salvamento será certamente um orgulho. A morte assusta-o?
A morte, boa pergunta. Tenho um lema: a morte protege os audazes. Por isso, a morte é uma dádiva de Deus.
Quando se salta de um paraquedas por motivos profissionais, existe o mesmo medo que saltar por desporto ou prazer de realizar essa experiência?
Ao saltar de paraquedas existe sempre o perigo, pelo que a diferença não existe.
Nuno, quando se passa por uma experiência de paraquedista militar, existe uma tatuagem na alma. Podemos saber qual é a sua?
A minha tatuagem aconteceu no dia em que realizei o sexto salto e ganhei a tão desejada e esperada boina verde.
No próximo dia 6 de maio, Lenzburg acolhe o vosso sétimo encontro. Que expectativas tem para este jantar?
Estamos já a trabalhar neste projeto e a definir o que vamos fazer. Queremos que todos se sintam bem acolhidos, bem-dispostos, que brinquem, que se divirtam e, sobretudo, que haja união, harmonia e fraternização. Se assim for, será para nós um sucesso.
Que recado deixa para toda a nossa Comunidade portuguesa?
Que venham ao nosso encontro conhecer as nossas tradições, não tenham receio de viverem uma nova experiência. Queremos em conjunto sentir a emoção da comunidade a cantar com os boinas verdes o nosso hino nacional.
A Gazeta Lusófona agradece a sua amabilidade e disponibilidade. Gratos pela vossa atitude.