› Ílidio Morgado
“Muito boa tarde a todos os compatriotas espalhados pelo mundo! Desde Genebra para o mundo, você está com a Rádio Arremesso, 24h de emissão, 7/7, todos os dias do ano, exclusivamente em português!”
Esta é uma das entradas de apresentação da Rádio Arremesso, estação de Rádio online que transmite 24h por dia, 365 dias, exclusivamente em língua portuguesa.
É assim desde 2004 até os dias de hoje e vai certamente continuar por muitos e bons anos.
Com estúdios próprios centro comercial La Praille em Genebra, a Rádio Arremesso é o elo de ligação entre a comunidade portuguesa radicada na Suíça e o mundo. Presente entre as 3 rádios portuguesas online mais ouvidas no planeta, orgulha-se de se manter disponível, acessível e cada vez mais interventiva na dinâmica das comunidades portuguesas na Suíça. Sendo uma Associação é claramente fruto do esforço e dedicação dos seus associados e corpos dirigentes que abnegadamente persistem em manter acesa a chama altruísta da partilha, amizade e solidariedade, e no que toca à solidariedade, o ano de 2021 e 2022 foram movimentados.
A Rádio Arremesso, em colaboração com várias instituições suíças, públicas e privadas, contactou, angariou e enviou para Portugal, centenas de camas e outros materiais hospitalares que foram distribuídos por muitas instituições portuguesas. É um caso de grande esforço, dinâmica de mobilização e de dedicação que merece ser destacado. Começou com um primeiro carregamento em janeiro de 2021 para o Lar da Misericórdia de Penalva do Castelo e terminou com um envio de camas para a Fundação de Aurélio Amaro Diniz. Durante o ano foram também beneficiados a Cruz Vermelha Portuguesa, Lar Os Melros em Germil, o Hospital Universitário de Coimbra, o Hospital Distrital da Figueira da Foz e a Câmara Municipal de Penalva do Castelo.
Para nos contar um pouco do ano que passou, convidámos o actual Presidente da Associação Rádio Arremesso, Pedro Machado, para uma conversa.
Antes de mais, queremos enaltecer o papel da ARA nesta vertente solidária. Parabéns pelo vosso trabalho e pelo empenho que demonstram nestas acções e por toda a vossa dedicação à comunidade portuguesa radicada na Suíça.
Pedro, conte-nos como começou esta linda aventura?
Obrigado pelos cumprimentos, a ARA é uma associação ao serviço da comunidade portuguesa e tenta fazer o seu melhor na promoção da língua e cultura portuguesa.
Esta aventura começa, especialmente através do nosso associado Américo Agostinho, enfermeiro no HUG que nos alertou para esta possibilidade em março de 2021, tínhamos apenas começado o mandato. Tivemos conhecimento de que um grande número de camas hospitalares iriam ser renovadas em diversas instituições de saúde suíças, e pensámos que seria um desperdício não aproveitar um material ainda em excelentes condições e metemos mão à obra. Ressalvo o facto que todo o material enviado se encontra em perfeitas condições de funcionamento, falamos de camas eléctricas, equipamentos de limpeza, que os suíços substituem por diversas razões mas material entre 3 e 5 anos de utilização. Metemos mãos à obra e contactámos diversas instituições em Portugal para aferir da receptividade deste material. As respostas que obtivemos foram todas entusiasmantes e tratámos de organizar a recepção e envio do material para Portugal. Para isso tivemos de “chatear” família e amigos para o carregamento, o que nem sempre é fácil visto que foi feito em horário de trabalho, mas como somos persistentes fomos convencendo uns e outros a dar uma ajuda. Aproveito para lhes agradecer o esforço e tempo que dispensaram nestas tarefas.
Qual é o retorno e impacto que teve a chegada deste material a Portugal?
Como calcula, as instituições em Portugal lutam com muitas dificuldades no seu dia a dia e a chegada deste tipo de material foi uma excelente notícia. Permitiu a substituição de material obsoleto e fora do contexto dos nossos dias e proporcionou outro tipo de conforto às pessoas que dele usufruem e para nós é gratificante saber que essas pessoas têm melhores condições com a chegada desse material. A forma com que nos receberam em Portugal não tem reflexo em palavras, ficámos de coração cheio e isso não tem preço nem classificação, é um encher de alma que nos fica para sempre e nos obriga a tentar encontrar outras formas de ajudar quem mais precisa, e isso vamos prosseguir, com toda a certeza.
O Pedro candidatou-se com a sua lista e “pegou” na condução da ARA numa época complicada, a meio da pandemia. Numa altura onde os apoios eram, e continuam a ser, nulos, onde foi arranjar coragem para assumir esta responsabilidade?
Recordo que a ARA é reconhecidamente uma mais valia na comunidade e junto das autoridades portuguesas e suíças.
Primeiro que tudo por sentir que a ARA é demasiado importante no panorama da nossa comunidade para a deixar cair e/ou desaparecer. Temos muitas coisas para fazer e iremos concretizar muitas, assim esperamos. Quando houve esta necessidade de avançar, juntámos algumas pessoas que sabíamos ter a nossa convicção e dedicação para nos lançarmos nesta aventura. A equipa que conseguimos formar é extraordinária, a direcção conta com 5 elementos, eu o Rogério Morgado, Albino Assunção, a Cristina Magalhães e o Miguel Santos. Além destas contamos com a preciosa colaboração do nosso emérito associado José Marques que dedicou muitos e bons anos, e continua, à Radio, assim como o Ilídio Morgado, não esquecendo a nossa família que têm muita paciência, e todos os voluntários que nos ajudam nesta “cruzada”. São pessoas de áreas de actividade diversas, mas que se complementam e, muito principalmente, funcionam muito bem em equipa. Somos coesos e a uma só voz, o que nos permite ser mais objectivos e focados nos assuntos importantes para a ARA e para a comunidade. É ancorado neste desígnio de serviço público, que o nosso trabalho tem vindo a fluir a dar frutos. Desde que tomámos posse, por conhecimentos, contactos, trabalho efectuado, etc., conseguimos captar mais associados que hoje se traduzem em 131, o que significa um aumento de 600% o que para nós é um voto de confiança e de responsabilidade acrescida para continuarmos o nosso trajeto, sempre tendo em conta o superior interesse das nossas comunidades. São essenciais à sobrevivência da ARA, além dos nossos patrocinadores, obviamente. Sem apoios institucionais, temos a fortuna de os nossos associados acreditarem no papel aglutinador da Radio assim como aos empresários e instituições bancárias portuguesas que nos apoiam, é graças a todo este esforço que a ARA continua o seu trabalho e irá, certamente, fazer ouvir a voz da comunidade portuguesa ao mundo inteiro.
A ARA tem grande impacto na comunidade em Genebra. Que outras acções promove além das emissões de radio?
De facto, sem qualquer arrogância ou sobranceira, somos há muito tempo um elemento de coesão entre o tecido cultural português, principalmente em Genebra mas começamos a ter muitas solicitações fora do cantão de Genebra, o que nos deixa muito satisfeitos. Mas quero enaltecer todo o esforço que as diversas associações lusitanas por esse mundo fora e especialmente em Genebra, onde estamos mais familiarizados. São elas o veículo principal da divulgação das nossas raízes culturais, étnicas, desportivas, etc. As associações têm um papel fundamental na manutenção do espírito do que é “sentir português”. São mulheres, homens e crianças que fazem prova de uma resiliência tão portuguesa de manter vivas as nossas tradições. Os ranchos folclóricos, por exemplo, movimentam centenas de pessoas todas as semanas. As festas e eventos organizados por todas as associações, são uma prova da força perseverante e de pujança da nossa comunidade. É para e com elas que trabalhamos e nos dedicamos à causa de ser português longe de casa. A ARA, além da nossa programação, acompanha todos os eventos para os quais é contactada para estar presente. Temos o nosso material de transmissão exterior e fazemos ecoar a voz dos nossos compatriotas em directo. É a nossa contribuição que resulta da excelente colaboração que mantemos com todas as associações. Como deverão saber, todo o trabalho que desenvolvemos é fruto de voluntariado e da vontade e disponibilidade da direcção e colaboradores, onde incluímos as nossas famílias que nos seguem para todo o lado. Temos igualmente intervenção na vida socio económica e política local, através de emissões pontuais sobre assuntos importantes para a comunidade, eleições locais, movimentos laborais e outras informações e iniciativas que demonstrem serem de interesse para a nossa comunidade. Apoiamos e acompanhamos os nossos representantes quando passam por Genebra, assim como colaboramos com a Embaixada de Portugal e o Consulado Geral de Portugal em Genebra. Mantemos as portas sempre abertas para todos os que quiserem intervir em assuntos da nossa portugalidade. Aproveito para lançar o desafio aos compatriotas que desejem apresentar programas na Rádio, estamos sempre receptivos a novas propostas e precisamos de ventos frescos de de renovação, até porque ouvir sempre os mesmos…cansa.
Com o mandato quase a terminar, o biénio acaba em março de 2023, tencionam continuar?
Boa pergunta. Obviamente que a intenção é continuar. Temos muito caminho a percorrer e muitas ideias para colocar em prática. O futuro é um desafio constante e queremos contribuir humildemente na nossa tão valiosa e extraordinária comunidade. Sim! Queremos continuar e estamos prontos a apresentar as nossas propostas aos nossos associados, colaboradores e ouvintes. E não se esqueçam, a ARA é um espaço aberto a todos! Apareçam! São todos bem vindos e nunca seremos demasiados. Precisamos da ajuda de todos, afinal somos já como família.
Quero deixar um agradecimento especial ao Sr Guido Stockli e ao Jorge Rodrigues de Zurique, que muito nos ajudaram no envio do material para Portugal, sem eles e sem os bravos voluntários nada disto seria possível. Bem hajam todos! Bom Ano Novo e ouçam a Radio Arremesso, de Genebra para o mundo. Abraço do tamanho do mundo!