Encontrámos Pedro Rodrigues no seu atelier de fotografia que partilha com três outros fotógrafos no centro da capital da Suíça, Berna. De pais portugueses naturais do Algarve, Pedro Rodrigues viveu toda a sua infância e juventude no Valais em Saas-Fee. A sua paixão pela fotografia veio da sua mãe – “a minha mãe passava tempos e tempos a tirar fotografias da família e comecei a despertar o meu interesse pela fotografia com 10 anos. Foi mais uma brincadeira no início”. Pedro Rodrigues começou a sua carreira de fotógrafo independente aos 22 anos. Já há 10 anos que vive a sua paixão entre trabalhos comerciais e projetos artísticos. Ele tem agora um grande projeto sobre a comunidade portuguesa na Suíça, uma maneira de afirmar as suas raízes e dar mais visibilidade e luz aos portugueses com o seu olhar de uma extrema sensibilidade, sempre preocupado com os problemas sociais e ambientais.
O seu retrato,
com as suas palavras
“Tenho 33 anos e passei a minha juventude em Saas-Fee numa estação turística nos Alpes, no Valais: fiz esqui, patim no gelo e jogava também à bola. Fui uma pessoa sempre muito bem integrada na Suíça e a maior parte dos meus amigos não são portugueses. Nesta aldeia na montanha havia muitos portugueses mas era uma geração mais velha que trabalhava lá, poucos jovens. Em casa falava-se português. Mas com o meu irmão comecei logo a falar mais alemão, e com a minha mãe era uma mistura das duas línguas.
Não costumo falar muito português e às vezes faltam-me as palavras certas. Antes ia muitas vezes para Portugal, mas agora já não. Os meus pais chegaram à reforma e voltaram para Portugal.
Sinto-me português, sei que eu sou português e tenho grande interesse nas minhas raízes e mostro isso na minha atividade profissional.
Depois da aprendizagem, fiz a escola superior de fotografia (Fachhochschule). Aos 22 anos decidi ser independente e acabei por me inscrever nesta escola para melhorar os meus conhecimentos. Dois dias por semana ia à escola e acabei o curso em 5 anos. Fiquei como uma formação superior de designer fotográfico.
Eu trabalho agora como fotógrafo independente a 100%, faço exposições, livros e tenho de ganhar dinheiro também. Tenho fases onde aceito mais trabalhos comerciais para financiar os meus projetos artísticos.”
Bom Dia Zermatt
– um olhar diferente sobre os trabalhadores “invisíveis”
Pedro Rodrigues queria fotografar as pessoas que normalmente não se vêm. Pessoas como os seus pais que dedicaram toda uma vida a trabalhar, com horários à noite e nos fins de semana e que não permitiam uma vida de família fácil, sendo muitas vezes ausentes. O seu lho sobre empregados de hotéis em Zermatt significou muito para Pedro Rodrigues, uma homenagem ao trabalho dos seus pais.
“Bom Dia Zermatt” é por enquanto o meu único trabalho sobre os portugueses, mas eu estou a preparar um projeto grande sobre a comunidade portuguesa na Suíça, é um trabalho ainda em fase de produção.”
Tentar mudar o mundo
Este jovem fotógrafo gosta de tópicos diferentes e revelam a sua preocupação com os problemas sociais e a sua vontade de mudar certas coisas – por exemplo, é o caso do seu trabalho sobre a venda de carros usados no Senegal
A problemática da venda de carros usados para países mais pobres, como o Senegal, significa também uma maneira de exportar a poluição do lado dos países mais ricos, esses carros de grandes cilindradas poluem muito, são sempre reparados e andam ainda muitos anos. Um tal negócio não tem sentido.
Quer conhecer
melhor Portugal
Pedro Rodrigues insiste no facto de que a Suíça e Portugal são totalmente diferentes. Apesar de falar melhor alemão e inglês do que português, ele sente-se perfeitamente português e quer conhecer melhor o seu país. Ele gostava de ficar alguns meses em Portugal e realizar alguns trabalhos como fotógrafo. Tem também um projeto sobre a comunidade portuguesa na Suíça e precisa de pessoas que queiram participar, ou seja que se deixem fotografar no seu dia-a-dia e no exercício da sua profissão. Não adiantou muito mais sobre os pormenores deste projeto, mas todas as pessoas interessadas podem contactá-lo através do seu site Internet.
Se alguém quer fazer parte deste projeto, tem de ser imigrante e aberto a falar sobre a imigração. “Os portugueses são uma comunidade fechada. Espero ser um português que dá mais abertura e visibilidade aos portugueses”.
Entrar num mundo fechado – o exemplo
do convento
Ele gostou muito de realizar um trabalho fotográfico num convento em Brig. Entrou num mundo fechado e não houve julgamento por parte das freiras que gostaram do resultado. Realizou este projeto durante um período de quatro anos, de 2016 até 2019. Visitou regularmente o convento e a vida desta comunidade. Publicou um livro com o título “Jenseits des Anfangs” (Para além do início) que teve muito sucesso.
Site Internet: www.pedrorodrigues.ch
A destacar: no dia 20 de agosto, Pedro Rodrigues vai estar presente numa exposição de fotos em Visp sobre a autoestrada A 9.
Clément Puippe