Fundada em 2004, a Associação 25 de Abril – Genebra (A25A) é uma associação genebrina dedicada à preservação da memória da revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, bem como do Portugal sob ditadura, da oposição ao regime e da emigração portuguesa. Desde a sua criação tem promovido inúmeros eventos como conferências, projeções de filmes, concertos e debates.
A Maison Internationale des Associations, em Genebra, recebeu no dia 27 de Novembro o coronel Mário Tomé, bem conhecido dos portugueses, sobretudo pela grande influência que teve no Movimento dos Capitães em Moçambique, na Revolução do 25 de Abril de 1974 e no processo revolucionário após a revolução.
A conferência teve início com uma breve apresentação da Associação com Marlene Barbosa que explicou os objectivos da associação, a renovação do respectivo comité e a elaboração de um novo programa de actividades elaborado a pensar não só nos portugueses mas também na população francófona.
Ivane Domingues continuou apresentando o orador da conferência relembrando a importância deste momento para que o público pudesse conhecer melhor um período muito importante para a democracia em Portugal.
Os seguintes parágrafos são um breve resumo das ideias expostas por Mário Tomé:
“O 25 de Abril surge da derrota iminente do exército colonial frente aos movimentos de libertação nas colónias, isolamento do Estado português no concerto de nações e desagregação das Forças Armadas, ou seja, desarticulação da respectiva hierarquia por um movimento de rebeldia e desobediência dos capitães.
Spínola e Costa Gomes aproximam-se do movimento dos capitães quando percebem o ascenso da revolução, não deixando “cair o poder na rua” assumem as rédeas do poder sucedendo-se na presidência
A 12 de setembro de 1974 um, se não o, marco no PREC, 12 000 operários da Lisnave decidem avançar para Lisboa, contra a indicação do MFA, chegados a Lisboa os soldados chamados a impedir a progressão da manifestação baixam as armas e permitem a passagem dos operários, num novo exemplo de desobediência e, desta vez, da aliança do movimento popular e o movimento dos soldados.
Ao longo do PREC os episódios contestatários e forças ideológicas dispares agudizaram as tensões dentro do MFA dando origem à sua fragmentação, materializada no documento dos «nove», mais moderado e social-democrata, de Melo Antunes e no documento do COPCON que preconizava o reforço do movimento popular demarcando-se dos imperialismos soviético e americano.
É neste contexto fragmentário que se dá o golpe de 25 de novembro, preparado desde a divisão do «Verão Quente» na Assembleia de Tancos, numa provocação clara à integridade e valores do corpo de paraquedistas ao decretar-se a sua dissolução, estes últimos acabam por ocupar as bases aéreas desencadeando o contragolpe.
O contexto global e europeu também ia de encontro aos movimentos moderados dentro do MFA, o operariado europeu votava já massivamente em partidos sociais-democratas, em Portugal o mesmo veio a suceder com a eleição do Partido Socialista que por esta altura de índole claramente social-democrata tendo, como referiu Mário Soares, «metido o socialismo na gaveta».
Por último Mário Tomé criticou o facto do Maio de 68 não ter sido tido em conta em Portugal, revolução que segundo o orador “é sem dúvida a maior Revolução contemporânea europeia e que nesse âmbito deveria ter sido tomada como referência’’. António José Saraiva, célebre historiador português, caracteriza aquele evento como “crise total da civilização burguesa”, iniciada por estudantes aos quais se juntou o operariado e classe média que acabaram por gerar a maior greve da humanidade”.
A Revolução acabou também por ser também uma revolução burguesa, a classe burguesa procurava libertar-se do fascismo e do dirigismo de Estado que o regime lhe impunha nos seus assuntos para poderem fazer uso autónomo dos seus lucros.
No fim do evento, Mário Tomé respondeu ainda a algumas questões do público:
Questionado pelo nosso jornal, acerca da influência que a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) teve no período do Estado Novo, condicionando as manifestações contra as medidas impostas pelo governo, Mário Tomé respondeu ter sido “fácil dominar essa força militar, pois nas Forças Armadas todos sabiam quem eram os membros dessa polícia secreta, e seus espiões ao serviço do Estado, e assim soubemos agir ao mesmo tempo, sendo que os resistentes foram depois presos. Refere ainda que os PIDE presos e julgados foram tratados com grande indulgência, às vezes julgados por antigos juízes boa parte escapuliu-se da prisão com a complacência dos guardas”.
Mauro Vieira, um emigrante português há mais de 20 anos na Suíça, questionou também se “o êxodo dos portugueses nesse período pré 25 de Abril, para França, e mais tarde para a Suíça, se deveu ao medo e insegurança vigente nesse período, causado pela austeridade da PIDE junto das pessoas que ousavam se manifestar”. Mário Tomé respondeu que não tinha sido apenas devido a esse aspecto, mas também dada a precariedade de vida das pessoas e da pobreza extrema em que se vivia, também causada pela manutenção das ex-colónias e da guerra colonial, que custavam muito aos cofres do Estado.
O evento terminou ao som da música de “Vila Morena”, tocada pelo músico David Pereira, com a sua viola campaniça, seguindo-se depois um convívio entre todo o público e membros da associação A25A.
A conferência será disponibilizada em breve no site da Associação (www.a25a.ch)
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