Cathy Santos é portuguesa e vive em Lausanne, na Suíça. Tem raízes em Viseu, confessa que viver na Suíça é exigente e que a pandemia atrapalhou o seu trabalho. Usa a dança como arte e tornou-a profissão. Hoje, o bailado é outro: tentar minimizar as saudades que sente de Portugal. Conversamos com esta cidadã que falou sobre como é a vida dos portugueses na Suíça e revelou alguns dos seus sonhos.
De onde é natural?
Viseu.
Em que locais de Portugal tem família?
Viseu e Vale de Cambra.
Como é a sua vida na Suíça?
A minha vida na Suíça é uma vida como gosto, com obstáculos e rodeada de gente que adoro. É levantar cedo para começar o dia e acabar tarde o trabalho. É tentar economizar, mas parece que tudo some nas faturas ou nas compras. É gostar do frio, da neve, da chuva e de muito calor no verão. É poder comer um bom chocolate quando me apetece e um fondue, claro.
Com o que trabalha na Suíça?
Sou professora de dança e futura nutricionista. Após dois anos a viver em Espanha, onde tive a oportunidade de dançar numa companhia em Madrid, decidi voltar para a Suíça e partilhar a minha paixão com outras pessoas. Neste momento, dou aulas em Genève e em Lausanne, tenho alunos de todas as idades e com a minha formação de bailarina profissional pluridisciplinar posso ensinar vários estilos diferentes como Street Jazz, Moder’n’jazz, contemporâneo e ballet. No final do ano letivo fazemos um espéctaculo para que os alunos/alunas possam mostrar o que aprenderam ao longo do ano.
Como é viver esta arte na Suíça?
Não é fácil porque nem toda gente percebe que é uma profissão e que exige muito esforço físico, mas sobretudo psicológico. Trabalho muito para ser reconhecida, dou várias aulas, ponho vídeos nas redes sociais, tenho que estar ativa para que as pessoas possam ver o meu trabalho e deem valor.
Como bailarina, exerce alguma influência de raiz portuguesa?
Nas minhas aulas ponho música portuguesa para que os alunos/alunas possam descobrir os nossos artistas, mas também porque me inspira e dá nostalgia.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Sim, família e amigos.
Como os portugueses são recebidos no país?
Somos um povo muito bem acolhido. Somos conhecidos por sermos trabalhadores e muito dados.
Frequenta associações portuguesas?
É raro, mas, de vez em quando, sim.
Como consegue matar as saudades de Portugal?
Tento. Ligo para o meu pai que vive em Portugal, vou a padarias portuguesas (sim, há cá), cozinho comida portuguesa ou peço a minha mãe para me cozinhar porque sabe sempre melhor, ouço música ou a rádio portuguesa e tento ir quando posso.
Vive com a sua família na Suíça?
Sim.
Qual é o sentimento quando regressa a Portugal de férias?
São vários sentimentos num só, felicidade.
Pensa em voltar a viver em Portugal algum dia?
Sim.
O que conquistou na Suíça até agora?
Dar aulas e aprender a amar-me foram duas conquistas que significam muito para mim.
Tem filhos?
Não.
O que a Suíça significa para si?
A Suíça? Ofereceu-me oportunidades profissionais, sabedoria, experiência e amigos.
Que imagem tem de Portugal?
Mesmo com os conflitos políticos, financeiros ou outros, têm sempre um sorriso.
Onde vive na Suíça?
Lausanne.
Como e por que foi viver para a Suíça?
Em 2012, tinha acabado uma formação pré-profissional e queria continuar a dançar. Na altura, Portugal não tinhas muitas possibilidades, muito menos com a crise financeira. Tinha família e como nasci cá, pensei: porque não?
O que espera do futuro?
Que ele seja bom para mim e espero conquistar tudo o que desejo.
Qual a diferença de vida entre Portugal e a Suíça?
Vivi 13 anos em Portugal e os anos que estou aqui, a maior diferença é o modo de vida. Em Portugal, há pessoas que ganham um salário mínimo e vão tomar café todos os dias porque precisam desse momento para desanuviar. Aqui, andam mais estressadas, preocupadas a ganhar dinheiro e esquecem-se de viver, de tomar um café tranquilamente.
A língua é um problema?
Para mim, não. Tive que arriscar-me, voltar a pensar nas bases que já tinha aprendido com a família ou na escola para poder adaptar-me e falar bem o francês, mas se fosse para a Suíça alemã, aí sim, seria um problema (risos).
Como a pandemia impactou o seu dia a dia e o da sua família?
Profissionalmente, bastante. As minhas aulas foram reduzidas, tive que dar aulas por vídeo mas a motivação era pouca de o fazer, houve dias que chorei porque já não aguentava a pressão, tinha que fazer os movimentos mais pequenos por causa dos diferentes espaços em casa das pessoas e da minha casa também, tive que ser criativa para não ser aborrecido, foi uma fase complicada, mas já passou. Para a minha família não teve muito impacto, continuaram a trabalhar e já retomaram.
Por fim, como vive o coração do imigrante português na Suíça?
Vive sempre com aquele calor no peito de quando vai voltar a Portugal, mas vive feliz.
Ígor Lopes